Saturday, January 28, 2006

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George Jonas, o autor do livro The Vengeance, no qual se baseia o filme Munique, escreveu um longo depoimento, "O Massacre de Spielberg", sobre como o roteiro foi feito, sem qualquer participação dele, e o que pensa do filme, que pode ser lido aqui. Para Jonas, que é judeu, anti-sionismo é sinônimo de anti-semitismo. Segundo ele, ser contra a existência de Israel (anti-sionismo) é o mesmo que ter ódio aos judeus (anti-semitismo). Isso o coloca no pólo oposto ao do roteirista do filme, Tony Kushner, um conhecido judeu americano anti-sionista.

Jonas nasceu em 1935 em Budapest e em 1956 emigrou para o Canadá, onde se tornou um conhecido jornalista e escritor. No início dos anos 80, foi contratado pela editora Collins para escrever o livro, baseado na história de um ex-oficial do Mossad que contou ter eliminado líderes palestinos a serviço de Israel (os israelenses sempre negaram, e continuam negando, que a história dele seja verdadeira). Jonas chamou-o de Avner. Durante um ano ele pesquisou a história de Avner e passou a acreditar nele. O livro descreve como Avner e seu pequeno grupo executam a missão de matar 11 palestinos, em resposta à execução de 11 atletas israelenses na Olimpíada de Munique, em 1972, por terroristas da Organização de Libertação da Palestina, sob o comando de Yasser Arafat.

Segundo Jonas, o filme de Spielberg segue o livro à letra, mas o espírito é o oposto. O livro mantem que há uma diferença entre terrorismo e contraterrorismo. O filme sugere que não há diferença. Para o livro, é fácil distinguir um ato de guerra de um crime de guerra. No filme, é difícil. A preocupação de Spielberg é o dilema moral de resistir ao terror. O livro se preocupa com o dilema moral de não resistir. No filme, Avner é paralisado pela dúvida moral. No livro, ele não duvida da moralidade do que faz, e sim da honestidade dos seus chefes, que não lhe dão as recompensas prometidas.

Spielberg entrou em contato pessoalmente com a fonte de Jonas, mas não com o escritor. Por isso, este não sabe o que Avner contou a Spielberg e ao seu roteirista, o autor de teatro Tony Kushner. Uma cena crucial no filme, a conversa entre Avner, disfarçado de terrorista alemão do Bader Meinhof, e Ali, um palestino, não está no livro porque Avner nunca a mencionou a Jonas.

"É uma cena", escreve Jonas, "didática, artificial e um pouco ridícula, que não deixa nenhum clichê de lado - mas não é ilegítima. Munique não é um documentário. Spielberg e Kushner têm todo o direito de botar as palavras deles na boca de Avner, mesmo que ele soe como um personagem que entrou no estúdio errado, vindo de uma telenovela: "Me diga uma coisa, Ali. Você tem mesmo saudade das oliveiras do seu pai?" Mas talvez o timoneiro e seu estenógrafo (nota: Spielberg e Kushner) não tenham inventado muito. É possível que, na tradição dos informantes e arapongas, minha fonte tenha dito aos cineastas esquerdistas o que eles queriam ouvir. Se Spielberg, uma pomba, estava procurando um porrete para bater nos falcões de Israel - e da América - minha ex-fonte deve ter se disposto a entregá-lo. O resultado não é tanto uma fábula da equivalência moral, e sim um triunfante - até orgásmico - hino de batalha da pomba".

"Numa era de caos moral, não conte com Hollywood para restaurar a clareza. Com todo o respeito à cultura popular e seu mestre inegável, não se chega à moralidade sendo neutro em relação ao bem e ao mal. Spielberg pode ser um fabuloso entertainer, um diretor mágico, um negociante esperto - talvez seja demais querer que ele também se torne um filósofo moral. Ele leva à tela o olhar inocente de um adolescente: essa é a força dele. Leva também a confusão ingênua de um adolescente: essa é a sua fraqueza. Fora da tela, sua fraqueza toma conta quando ele se perde numa fantasia bem hollywoodiana: planeja distribuir 250 cameras de video para crianças palestinas e israelenses, 125 para cada grupo, para que registrem suas vidas cotidianas, troquem fitas e dialoguem. (Minha mulher diz que alguns jovens palestinos vão usar as cameras de Spielberg para gravar suas despedidas como terroristas suicidas). Não há nada como a megalomania de um diretor de cinema misturada a ilusões 'progressistas'."

Spielberg declarou que o objetivo do filme é não demonizar nem os judeus, nem os palestinos. Jonas comenta que, segundo alguns jornalistas, os judeus não vão gostar do filme, porque "trata os palestinos como seres humanos". Para ele essa é uma insinuação anti-semita. "Tratar os palestinos como seres humanos não desagrada aos judeus. O que desagrada é tratar os terroristas como seres humanos. Não demonizar seres humanos é ótimo, mas em seu esforço para não demonizar seres humanos, Spielberg e Kushner acabam humanizando demônios".

Jonas observa que entre o livro e o filme se passaram 20 anos, e o mundo mudou. "Em 1972, os terroristas encapuzados do Setembro Negro eram os vilões. Até chefes terroristas como Yasser Arafat tentavam se distanciar de massacres como o de Munique. Em 2005, as coisas são mais equívocas. Tanto os terroristas quanto os contraterroristas estão saindo do armário para contar vantagem na TV. Questionando a moralidade dos contraterroristas, os terroristas começaram a atribuir justificativa e legitimidade aos seus atos. Logo a mídia estava descrevendo os sequestradores e autores de atentados a bomba como "militantes" e "insurgentes", transformando a explosão de pessoas em cidades e aviões em método legítimo de expressão política. Imagens dos aviões batendo nas torres do World Trade Center levaram as pessoas a dançar nas ruas em todo o mundo árabe. O novo milênio tornou-se o Século Terrorista."

Friday, January 27, 2006

As crianças do Hamas

Fotos tiradas em manifestações anti-Israel. Há dezenas de fotos, como estas, postadas no blog www.littlegreenfootballs.com. É especialmente trágico, mas necessário, ver isto no dia em que se lembra a morte de 6 milhões de judeus no Holocausto.


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Esta é da comemoração de um atentado que matou 16 civis israelenses em agosto de 2004

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Reem Rayshi se explodiu matando quatro civis israelenses em 26 de janeiro de 2004. Antes ela posou com o filho Obida, 3 anos, carregando armas


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Bebê do Hamas


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Mais Brokeback Mountain:

The maker makes - Rufus Wainwright

A love that will never grow old - Emmylou Harris

He was a friend of mine - Willie Nelson
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Thursday, January 26, 2006

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Gustavo Santaolalla é um músico argentino que se tornou um dos mais conhecidos produtores de rock latinoamericanos. Fez a trilha sonora dos filmes Amores Perros, 21 Gramas e Diários da Motocicleta (ou seja, é fera) e agora Brokeback Mountain, sério candidato a ganhar o Oscar de melhor trilha sonora.
Nos anos 70, Santaolalla era assim

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e ficou assim (tem 53 anos).

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Três faixas do disco:
Brokeback Mountain (Santaolalla)
Snow (idem)
I will never let you go (Jackie Greene)
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Niall Ferguson

A GRANDE GUERRA DO GOLFO

O historiador Niall Ferguson, um escocês que ensina na universidade Harvard, publicou no Daily Telegraph um artigo intitulado "As origens da Grande Guerra de 2007 e como ela poderia ter sido evitada". Ferguson, que entrevistei para o Milênio da Globo News, é o autor de estudos brilhantes do império britânico e da história financeira, inclusive três volumes sobre a história dos Rothchilds. Antes da guerra do Iraque, ele publicou um livro provocativo sobre o império americano. A tese dele é que os americanos não têm estômago para manter um império, têm um "attention span" curto, não suportam campanhas militares muito longas. Ferguson é um dos defensores da chamada "doutrina Bush", de intervenção preventiva para cortar desafios estratégicos antes que cresçam. Mas ele não acredita que Bush tenha peito de praticar essa doutrina.

No artigo, Ferguson faz o que ele chama de "história contrafatual", ou seja, ficção histórica. Ele escreve como se fosse um historiador do futuro, analisando as causas de uma guerra mundial que teria ocorrido entre 2007 e 2011. É um recurso usado por Ferguson para defender a tese de que os Estados Unidos deveriam fazer, este ano, um ataque preventivo às instalações nucleares do Irã.

No cenário imaginado por Ferguson, O Irã leva adiante seu programa de armas nucleares. O historiador do futuro lembra que o Irã tem uma imensa população jovem pronta para lutar. O ocidente torce para que os aiatolás refreiem o presidente Ahmadinejad, mas ele está disposto a ir à guerra contra Israel.

Condoleezza Rice e os europeus convencem Bush a usar somente a diplomacia contra o Irã. Mas a diplomacia não dá certo porque a China veta no Conselho de Segurança da ONU uma resolução de sanções contra o Irã. A única sanção ao Irã é simbólica, sua seleção é expulsa da Copa do Mundo na Alemanha. Os neoconservadores pressionam Bush, mas o atoleiro militar dos americanos no Iraque tirou a credibilidade dos neocons. Afinal o pretexto usado para derrubar Saddam, um arsenal nuclear iraquiano, era falso. E os europeus, ironiza Ferguson, nem querem ouvir falar em Irã. "Mesmo que Ahmadinejad transmitisse um teste nuclear ao vivo pela CNN, os liberais diriam que isso é um truque dos neoconservadores".

"E assim a história se repete", escreve Ferguson. "Como em 1930, um demagogo anti-semita quebra as obrigações internacionais de seu país e se arma para a guerra".

No cenário de Ferguson, o primeiro-ministro de Israel é o ultradireitista Benjamin Netanyahu. De fato, Netanyahu, que rompeu com Sharon quando este decidiu se retirar de Gaza, tem chance de ser eleito agora em março, pois a vitória do Hamas nas eleições palestinas pode radicalizar os dois lados.

"Agora Teerã tinha um míssil nuclear apontado para Tel Aviv. E o novo governo israelense de Benjamin Netanyahu tinha um míssil apontado para Teerã. Os otimistas argumentavam que a crise dos mísseis de Cuba iria se repetir no Oriente Médio. Os dois lados ameaçariam ir à guerra e depois recuariam. Era a esperança da secretária de estado Rice, enquanto ela voava entre as duas capitais. Mas não aconteceu".

"O devastador conflito nuclear de agosto de 2007", prossegue o historiador do futuro, "representou não só o fracasso da diplomacia, marcou o fim da era do petróleo. Alguns dizem que foi o início da decadência do ocidente. Certamente é uma interpretação válida do conflito que se alastrou quando a população xiita do Iraque tomou as bases americanas em seu país e a China decidiu intervir ao lado do Irã".

E aí vem o parágrafo final no qual Ferguson defende sua tese:
"O historiador tem que se perguntar se o verdadeiro significado da guerra de 2007-2011 não foi validar o princípio inicial do governo Bush, da guerra preventiva. Pois se esse princípio tivesse sido seguido em 2006, o avanço nuclear do Irã teria sido impedido a um custo mínimo. E a Grande Guerra do Golfo não teria acontecido".

A VITÓRIA DO HAMAS

Um dos fatores que levaram à derrota do partido Fatah de Yasser Arafat e à vitória do Hamas nas eleições palestinas é a corrupção generalizada dos seguidores de Arafat. Os Estados Unidos e a União Européia deram entre 3 e 4 bilhões de dólares aos palestinos. Grande parte foi parar no bolso de Arafat e seus comparsas. O mundo fechou os olhos a esse escândalo, ao mesmo tempo culpando Israel pela miséria dos palestinos. O descaso com a corrupção de Arafat está custando caro: a eleição do Hamas, um movimento islâmico que combate a corrupção, mas quer a destruição de Israel. Qualquer possibilidade de diálogo está congelada no momento, enquanto os dois lados se adaptam à nova situação. E a maior hipocrisia é que agora os americanos ameaçam parar de ajudar os palestinos, porque não dão dinheiro a terroristas.

Tuesday, January 24, 2006

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desenho representando a Grande Sinagoga de Bagdá, hoje destruída

Encontrei informações interessantes sobre os judeus de Bagdá. Conheço alguns que vivem aqui e a história deles não é muito conhecida. Seguem alguns trechos:

Uma das mais antigas comunidades judaicas é a do Iraque. Em 722 A.C. as tribos do norte de Israel foram derrotadas pelos Assírios e alguns judeus foram levados para onde é hoje o Iraque. Uma comunidade maior se estabeleceu em 586 A.C. quando os babilônios conquistaram as tribos do sul de Israel e escravizaram os judeus. Estes se distinguem dos sefaradim (judeus espanhóis e portugueses) e se denominam Baylim (babilônios). Com o passar dos séculos a região recebeu mais judeus, entre eles os sábios que escreveram o Talmud entre 500 e 700 A.D.
No início do século XX, os judeus eram um terço da população de Bagdá. O Iraque se tornou independente em 1932. Como os judeus formavam a classe média mais educada do país, desde o início eles participaram da administração do Iraque. O primeiro ministro das finanças do Iraque, Yehezkel Sasson, era um judeu. Os judeus tiveram grande participação na criação do sistema judiciário e do sistema postal.
Mas aos poucos começou a perseguição aos judeus. Em junho de 1941, Rashid Ali Gilani deu um golpe contra o regente (o rei tinha quatro anos) e tomou o poder. Gilani era aliado do líder palestino, o Grande Mufti de Jerusalém, e da Alemanha nazista. Multidões de árabes, com a cumplicidade da polícia e do exército, mataram 180 judeus e feriram 1 mil. O massacre só foi interrompido quando o exército britânico ocupou Bagdá e Rashid Ali fugiu para a Arábia Saudita. Mas a trégua para os judeus iraquianos terminou em 1947, com a partilha da Palestina e a invasão de Israel por cinco exércitos árabes, inclusive o iraquiano. Os ataques aos judeus iraquianos aumentaram durante a guerra de independência de Israel, entre 1947 e 1949. Em 1948, o sionismo tornou-se crime no Iraque, punido com a pena de morte.
Em 1950, o Iraque permitiu que os judeus deixassem o país, contanto que abrissem mão da cidadania iraquiana. Entre 1949 e 1951, 104 mil judeus deixaram o Iraque, para Israel e outros países. Eles tiveram que vender todas as suas propriedades antes de deixar o Iraque.
Em 1952, o governo do Iraque proibiu a emigração de judeus. Dois judeus foram enforcados, acusados falsamente de terrorismo.
Com o início do regime baathista, em 1963, os judeus remanescentes foram obrigados a usar cartões de identificação amarelos. Todas as propriedades de judeus foram confiscadas, as contas bancárias congeladas, e judeus foram proibidos de exercer cargos públicos e de possuirem telefones. Muitos foram confinados em prisão domiciliar.
Em 1968, dezenas de judeus foram presos sob a acusação de serem espiões. Onze foram enforcados em praças públicas de Bagdá. Outros morreram na tortura. Em 27 de janeiro de 1969, a rádio Bagdá convocou a população a "participar da festa". Meio milhão de pessoas desfilaram e dançaram sob os corpos dos judeus enforcados gritando "morte a Israel", "morte aos traidores". Diante dos protestos em outros países, o governo iraquiano alegou que "os judeus crucificaram Cristo". Tudo isso aconteceu antes que Saddam Hussein tomasse o poder.
Diante da pressão internacional, o governo de Bagdá permitiu que os judeus restantes emigrassem para Israel. Hoje, calcula-se que menos de 30 judeus ainda vivam em Bagdá, velhos demais para emigrar.
Cerca de 2 700 anos depois de estabelecida, uma das mais importantes comunidades da história judaica foi extinta.
Entrevistei hoje para o Sem Fronteiras da Globo News o chefe do departamento de Oriente Médio da New York University, Zachary Lockman. Já o tinha entrevistado outras vezes, ele é ótimo. A entrevista foi sobre o Hamas e vai ao ar na Globo News na quinta-feira. Lockman me ajudou a sair do meu surto pró-Israel dos últimos dias. E olha que ele é judeu. Ele me explicou que embora de fato o Hamas tenha feito atentados terroristas contra Israel, e matado civis israelenses, o partido tem muita legitimidade entre os palestinos por três motivos: os políticos do Hamas - muitos deles eleitos prefeitos de cidades palestinas - não são corruptos como os do Fatah de Yasser Arafat; o Hamas fornece, especialmente em Gaza, serviços essenciais como saúde e educação; e por último o Hamas é visto como forte diante de Israel, enquanto o Fatah é visto como acovardado por ter negociado a paz desde 1993 e prometido um estado palestino que não aconteceu. Disse Lockman que o Hamas tem dois lados, o político, que agora participa das eleições, e o militar, mais radical, que inclui líderes que vivem no exílio - senão seriam mortos pelos israelenses como muitos já foram. Com a eleição de deputados do Hamas - espera-se que eles formem uma bancada quase tão grande quanto o Fatah - Israel vai ter que manter alguma forma de contato com esses novos líderes palestinos, para resolver problemas do dia-a-dia. Lockman calcula que a prática levará inevitavelmente a uma mudança de política e Israel acabará tendo que negociar com o Hamas, assim como os Estados Unidos. Diz ele que essa ala política do Hamas está disposta a negociar com Israel. Enfim, existe uma terceira via, entre o terrorismo palestino e a intransigência israelense.
Quanto ao Iraque, minha impressão (ver post abaixo) de que só há dois lados na questão - ou o projeto de Bush ou o caos e a guerra civil - também está errada. Lockman disse que o projeto de Bush - criar uma democracia no Iraque - já fracassou. Segundo ele a guerra civil é uma possibilidade forte, criada exatamente pelos erros do projeto Bush. E o que pode surgir, como alternativa, não é uma democracia mas algo mais parecido com a teocracia xiita do Irã - e aliada ao Irã.
Aliás, Lockman chama atenção para a hipocrisia dos americanos e israelenses: dizem ser a favor da democracia no Iraque e no mundo árabe (segundo Lockman só da boca pra fora), mas não aceitam representantes democraticamente eleitos pelos palestinos, só porque são do Hamas.
Enfim, tenho que dar a mão à palmatória e reconhecer que para quem de fato conhece a questão a realidade é bem mais complexa do que o que eu estava vendo, sob o prisma da ideologia e do parti pris. Me penitencio. Tenho mais é que ouvir quem entende e parar de dar palpite errado.

Saturday, January 21, 2006

DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?

Eu me exalto quando falo de Israel, e fico muito maniqueista, como bem apontaram Anna Maria, José Pires e outros, porque tenho paixão pela saga do povo judeu e vejo com muita tristeza como a questão de Israel está mais uma vez botando a maioria das pessoas no mundo contra os judeus. Concordo que o Sharon tem parte da culpa, mas as pessoas esquecem o que o outro lado fez e continua fazendo contra os judeus. Isso me deixa louco, essa cegueira em relação ao terrorismo contra Israel. O perigo de um novo Holocausto dos judeus, desta vez nuclear, é bem concreto. E os constantes ataques "suicidas" (na verdade homicidaS) de palestinos que se explodem nas cidades israelenses não deixam dúvidas sobre o objetivo dos terroristas árabes. Esses ataques só diminuíram depois que Israel ergueu a barreira de proteção chamada de "muro da vergonha" por aqueles que não acham uma vergonha o massacre de inocentes pelos terroristas.
Quero escrever agora sobre outro tema delicado, mas que não me deixa tão exaltado. É a presença americana no Iraque.
Bush fez tudo errado. Invadiu o Iraque sem ter esgotado a pressão coletiva pela ONU, perdeu a chance de fazer uma coalizão ampla contra Saddam Hussein, mentiu descaradamente para enganar a opinião pública americana.
Depois da queda de Saddam, foi pior ainda, perdeu-se a chance de estabilizar o país antes que a "insurreição" tivesse a chance de crescer.
Mas seria bom olhar o lado positivo também. O Iraque viveu por décadas sob uma ditadura sanguinária. Em particular, a ampla maioria, que segue o ramo xiita do islamismo, era massacrada e não tinha nenhum direito nem liberdade de praticar sua religião.
Isso acabou.
Duas eleições gerais já foram realizadas no país e um parlamento foi eleito. Os iraquianos se orgulham disso e mostram, depois de votar, o dedo manchado com a tinta que impede fraudes.
O parlamento reflete exatamente a proporção dos três principais grupos do país: xiitas, sunitas e curdos. Pela primeira vez na história do país, vai ser formado um governo representativo.
Há muitos problemas, a constituição feita pelos próprios iraquianos é cheia de erros, mas o processo democrático caminha. O Iraque está se tornando a primeira democracia do mundo árabe.
Há poucos dias, o New York Times citou um príncipe do Bahrain que disse: "Nós somos árbes tradicionais, a democracia não está na nossa natureza". Isso é ridículo, ou trágico. Os árabes são tão aptos a se autogovernarem quanto qualquer outro povo.
Quanto à "insurreição", acho que o nome está errado. Insurreição sugere rebelião popular, no caso contra um invasor, como aconteceu na Argélia contra os franceses e no Vietnam contra os americanos. Mas no Iraque não está havendo uma sublevação generalizada contra os americanos e seus aliados. Na maior parte do país os esforços destas forças estrangeiras para trabalhar na reconstrução do país tem sido bem-vindos.
O que há é uma coalizão de grupos armados que inclui militares do regime anterior, combatentes árabes que entram no Iraque pela Síria, e terroristas ligados a Al Qaeda. As táticas usadas por eles incluem confrontos diretos com as forças americanas em algumas cidades e áreas remotas do país, onde a maioria da população é sunita, emboscadas e detonação de bombas que têm por alvo militares americanos, e atentados contra a população civil xiita e curda, inclusive ataques sanguinários a mesquitas e serviços religiosos.
O objetivo é desmoralizar o novo governo iraquiano, acirrar o ódio entre as etnias e assim provocar uma guerra civil, e obrigar os americanos e aliados a se retirarem do país. O resultado seria algo como o Afeganistão antes da invasão de 2001, ou o que acontece hoje na região montanhosa entre o Paquistão e o Afeganistão, onde o Talibã e Osama bin Laden fazem a lei.
Indo às urnas em massa, os iraquianos repudiaram essa alternativa. Eles preferem avançar para uma democracia. Até os sunitas decidiram participar do processo político, se afastando dos grupos armados. E por isso políticos sunitas também passaram a ser alvo da "insurreição".
Aqui nos Estados Unidos a maioria deseja o fim da ocupação do Iraque. Mas ao mesmo tempo os americanos gostariam que todo o esforço e sacrifício já empregados no Iraque tenham algum resultado positivo. Por isso até a senadora Hillary Clinton, uma das possíveis candidatas a presidente pelo partido Democrata, é contra a retirada imediata das forças americanas. O candidato democrata derrotado em 2004, John Kerry, propunha até mandar mais tropas para o Iraque, para garantir a vitória contra a "insurreição".
Então, por mais que se critique o governo Bush por seus erros e crimes, seria aconselhável ver imparcialmente o que está acontecendo no Iraque.
E aí, parece que o melhor para o povo iraquiano seria a derrota da "insurreição" que tem feito muito mais vítimas civis do que qualquer "dano colateral" das operações dos americanos e aliados. É claro que muita gente deve achar que o Iraque estava melhor sob a ditadura de Saddam Hussein ou que ficaria ainda melhor num regime como o do Talibã, ou numa guerra civil. E aí faz sentido torcer pela "insurreição" e contra os americanos e o novo governo iraquiano. O que não dá é para ficar em cima do muro. Não existe uma "terceira via" no Iraque.

Monday, January 16, 2006

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Hoje foi o dia de Martin Luther King Jr, o líder da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos assassinado em 1968. Talvez o homem que mais fez neste país para combater, pacificamente, o racismo que ainda deixa marcas tão profunda nesta sociedade.
É animador ver que o legado do Dr. King permanece forte entre os negros americanos. Mas, infelizmente, uma grande parte deles continua a ser manipulada por extremistas tão racistas quanto os supremacistas brancos: os anti-semitas.
Pesquisa recente mostra que 36% dos negros americanos têm posições fortemente anti-semitas - odeiam os judeus e os culpam pela situação de inferioridade dos negros. Essa alta percentagem, que não tem diminuído ao longo dos anos, contrasta com o anti-semitismo entre os brancos, que só tem o apoio de 9% da população branca.
Na ponta-de-lança entre os líderes negros anti-semitas estão americanos que se converteram ao islamismo. Louis Farrakhan, que comanda a organização Nação do Islã, é o mais conhecido e influente. Mas também está crescendo outro grupo, os Novos Panteras Negras. Seu líder, o jovem Malik Zulu Shabazz, foi quem lançou logo depois dos atentados de 11 de Setembro a idéia de que Israel era responsável pelos ataques e de que os judeus que trabalhavam no World Trade Center tinham sido avisados e não foram trabalhar naquele dia. Em seus discursos, Shabazz costuma incitar seus seguidores contra os judeus com frases como: "Matem cada sionista em Israel! Matem os bebês, matem as velhas! Explodam os supermercados judeus!" Já Farrakhan publica livros "provando" que os judeus foram os responsáveis pela escravidão nos Estados Unidos.
As pesquisas de opinião mostram que uma grande parte dos negros acredita nisso. É um desafio para os seguidores de Martin Luther King Jr. acabar com esse câncer que continua contagiando de racismo e ódio a comunidade negra americana.
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Bandeiras de Israel sendo queimadas em Teerã

Acirrando a campanha de ódio aos judeus, o governo do Irã anunciou que vai patrocinar uma conferência internacional em Teerã para discutir "cientificamente" o Holocausto. Para o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, o genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas é "um mito". O líder iraniano já tinha desencadeado uma onda internacional de protestos em outubro quando prometeu "varrer Israel do mapa". A destruição de Israel faz parte da política oficial do Irã desde a revolução islâmica de 1979.
Eu estou sendo acusado de racista por pessoas que deixam comentários neste blog porque defendo a causa judaica. Gostaria de saber o que essas mesmas pessoas acham do crescente coro, especialmente no mundo islâmico, daqueles que negam que o Holocausto tenha ocorrido.
Um dos legados da ditadura militar brasileira é a mudança de 180 graus na política externa brasileira em relação a Israel. Nosso país foi um dos mais fortes defensores de Israel quando da independência do estado judeu em 1948. Mas depois que a ditadura passou a fornecer armas a Saddam Hussein, Israel virou inimigo. O Brasil votou a favor da resolução da ONU de 1975 que declarou ser o sionismo uma forma de racismo. Esta resolução absurda, que só foi abolida pela própria ONU em 1991, demonstra a força do racismo contra os judeus, o ódio que está por trás do conflito no Oriente Médio. Não custa repetir o fato histórico de que os judeus aceitaram a divisão da Palestina entre um estado judeu e um estado árabe, mas os árabes nunca aceitaram a existência de Israel.
E a negação do Holocausto faz parte dessa política de ódio racial. É ensinada às crianças nas escolas em muitos países muçulmanos, assim como os Protocolos dos Sábios de Sião, o texto forjado pela polícia tzarista para estimular o ódio aos judeus, é estudado nas escolas. O ódio racial anti-semita é inculcado desde cedo entre os mais de 1 bilhão de muçulmanos. Isso não é racismo? Não é exatamente o mesmo ódio que permitiu a Hitler executar sua Solução Final com uma vasta operação industrial de extermínio dos judeus?
Agora o Irã caminha para a produção de um arsenal nuclear. Nesta segunda-feira o mundo mais uma vez cruzou os braços. Em vez de levar essa questão, a mais grave ameaça à paz no momento, ao Conselho de Segurança da ONU, as potências se curvam aos aliados do Irã - Rússia e China - para não fazer nada enquanto o Irã ganha tempo.
No Canadá e na Europa, aqueles que negam que o Holocausto tenha ocorrido podem ser processados pelo crime de ódio racial. Essa corrente neonazista de "negadores" do Holocausto parecia destinada ao lixo da História. Por isso preocupa que o Irã, com sua riqueza petrolífera, tenha decidido investir nessa campanha racista.
Alguns visitantes deste blog alegam que os dois lados se equivalem e que defender Israel seria alimentar o ódio. Não é verdade.
De um lado há mais de 1 bilhão de muçulmanos sendo manipulados por aqueles que usam a histeria anti-semita como arma para manter suas sociedades sob regimes opressores (Israel é a única democracia do Oriente Médio; a Turquia tem eleições, mas não liberdade - p.ex, é crime na Turquia dizer que os armênios foram vítimas de genocídio pelos turcos há quase 100 anos).
Do outro lado, cerca de 5 milhões de judeus que podem ser "varridos do mapa", como quer o presidente do Irã, se não se defenderem. Será racismo não querer que o Holocausto se repita?

Abaixo, o texto de um dos mais veementes protestos contra o presidente iraniano, assinado pelo Conselho Nacional das Igrejas dos EUA, uma entidade ecumênica que representa 45 milhões de cristãos de 35 denominações e é conhecida por seu apoio à causa palestina:

"O Conselho Nacional das Igrejas dos EUA condena os comentários do presidente Mahmoud Ahmadinejad, pedindo a obliteração do estado de Israel. O estado de Israel encarna há décadas as esperanças e sonhos dos judeus de todo o mundo, especialmente desde o Holocausto que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. A injúria do presidente Ahmadinejad, de que o Holocausto nunca aconteceu, é uma séria advertência sobre o poder corrosivo da ignorância, do desespero e do ódio. Não é por acaso que entre os primeiros protestos contra a declaração do presidente iraniano estavam as dos líderes alemães cujos pais foram testemunhas da horrível realidade do Holocausto. A manifestação mais vociferante do anti-semitismo é a "Grande Mentira" que agora vem de Teerã. Em oposição a esse ódio incompreensível, todas as pessoas de fé e boa-vontade têm que ser firmes na rejeição aos pontos de vista de Ahmadinejad. Nós no Conselho Nacional de Igrejas dos EUA deploramos esses pontos de vista. Face ao apelo do Sr. Ahmadinejad pela obliteração de Israel, o Conselho Nacional das Igrejas dos EUA reafirma seu apoio à segurança do estado de Israel, junto a um estado palestino viável. Nós também reafirmamos nosso respeito ao judaísmo e nossa amizade com o povo judeu."

Sunday, January 15, 2006

edição americana

edição brasileira de 2003

edição árabe

edição russa

edição nazista

O livro apócrifo, Protocolos dos Sábios do Sião é uma fraude feita na Rússia pela Okhrana (polícia secreta do Czar Nicolau II), que culpa os judeus pelos males do país. Foi publicado privadamente em 1897 e tornado público em 1905, por Serguei Nilus em seu livro "Velikoe v Malom" (Os Grandes e Os Pequenos). É copiado de uma novela do século XIX (Biarritz, 1868) e afirma que uma cabala secreta judaica conspira para conquistar o mundo.

A base da história foi criada por um novelista alemão anti-semita chamado Hermann Goedsche que usou o pseudônimo de Sir John Retcliffe. Goedsche roubou a idéia de um outro escritor, Maurice Joly, cujos "Diálogos no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu" (1864) envolviam uma conspiração dos Infernos contra Napoleão III. A contribuição original de Goedsche consistiu na introdução dos judeus como os conspiradores para a conquista do mundo.

O Império Russo usou partes da tradução Russa da novela de Goedsche, publicando-as separadamente como os Protocolos, e afirmando serem atas autênticas de reuniões secretas de Judeus.

O seu propósito era político: reforçar a posição do Czar Nicolau II apresentando os seus oponentes como aliados de uma gigantesca conspiração para a conquista do mundo. O Czar já via no Manifesto Comunista de Marx e Engels, de 1848, uma ameaça. Como Marx era judeu de nascimento, apesar de não seguir a religião e pregar por um regime político onde a religião seria banida, a "ameaça judaica poderia ser fundamentada"

Os Protocolos são uma fraude de uma ficção plagiada. Os Protocolos foram denunciados como fraude em 1921 por Philip Grave, um correspondente do London Times; por Herman Bernstein em "The Truth About The Protocols of Zion: A Complete Exposure" (Ktav Publishing House, New York, 1971); e Lucien Wolf em "The Jewish Bogey and the Forged Protocols of the Learned Elders of Zion" (London: Press Committee of the Jewish Board of Deputies, 1920).

Os Protocolos foram publicados nos EUA num jornal de Michigan cujo proprietário era Henry Ford (o criador dos carros Ford), ele mesmo autor de um livro tremendamente anti-semita chamado de O Judeu Internacional. Mesmo após a sua denúncia como fraude, o jornal continuou a citar o documento. Adolf Hitler e seu Ministério da Propaganda usaram os Protocolos para justificar a necessidade do extermínio de judeus, mais de 10 anos antes da Segunda Guerra Mundial.

Segundo a retórica nazista, a conquista do mundo pelos Judeus, descoberta pelos russos em 1897, estava sendo levada a cabo 33 anos depois.

Os Protocolos continuam a enganar pessoas e ainda são citados por indivíduos e grupos racistas, supremacistas brancos, nazistas e neo-nazistas como a causa dos males dos povos, quer estejam sob governos democráticos, ditatoriais, de esquerda, de direita, teocráticos ou qualquer outro regime.

Os Protocolos estão publicados em várias línguas, inclusive português, espanhol, inglês, russo, outras línguas da Europa Oriental, árabe e línguas asiáticas etc. Enquanto Hitler os usou para "provar" que os judeus eram culpados pela Revolução Comunista na Rússia em 1917, os neo-nazis russos e nacionalistas-comunistas russos os usam, hoje, para provar que os judeus são os responsáveis pela queda do Comunismo e pela democratização do país.

O texto falso, a fraude feita por um governo imperial decadente e cruel com seu próprio povo, é tão convincente que 104 anos depois ainda é apresentado como uma das maiores revelações que todo bom racista deve conhecer.

No Brasil

No Brasil são inúmeras as publicações dos Protocolos dos Sábios de Sião. A tradução que deu origem a todas elas é a da edição comentada do historiador laureado e membro e presidente da Academia Brasileira de Letras Gustavo Dodt Barroso (1888-1959). Entre outras coisas foi um dos ideólogos do Integralismo, que tenta se mostrar "não anti-semita", mas enxergando o mundo pelas letras de Gustavo Barroso em livros como: Brasil - Colônia de banqueiros (1934); História secreta do Brasil, 3 vols. (1936, 1937 e 1938) e Os protocolos dos sábios de Sião (1936). Nos últimos 25 anos, tais livros têm sido publicados pela Editora Revisão de Siegfried Elwanger "Castan" e podem ser encontrados para venda na Internet e em diversas livrarias e feiras de livros. Algumas outras editoras publicaram os Protocolos, inclusive com propagandas de venda como em 2000 no Rio de Janeiro.

Pela lei brasileira, os Protocolos não são proibidos, pois não fazem apologia ao nazismo, tendo sido escritos quase 30 anos antes do surgimento da ideologia nazista. Os Protocolos formam a base do conceito de Hitler para a perseguição dos judeus, mas em momento algum falam contra os judeus. A edição comentada por Gustavo Barroso é legal. As diversas edições sem os dados do editor e gráfica ou autor, são ilegais em em relação a "Lei de Imprensa" brasileira. Os Protocolos são indicados como leitura obrigatória em sites de grupos separatistas, nazistas, nacionalistas, do Poder Branco, KKK e até mesmo do MV - Movimento Pela Valorização da Língua Portuguesa.

O texto acima faz parte do blog Midia Judaica Independente uma excelente fonte de informações sobre o anti-semitismo (exemplo: o discurso que Hugo Chavez fez neste último Natal, o qual contem o seguinte trecho, claramente inspirado nos Protocolos, com uma retórica que parece copiada de Hitler: "Umas minorias, os descendentes dos mesmos que crucificaram Cristo, dos mesmos que derrubaram Bolivar aqui... uma minoria que se apoderou das riquezas do mundo, uma minoria que se apoderou do ouro do planeta, do dinheiro, dos minerais, das águas, das terras boas, do petróleo, das riquezas, pois, e concentraram as riquezas em poucas mãos") .

Uma observação importante feita nesse blog: o livro dos Protocolos não deve ser proibido, e sim lido por todos, com o conhecimento de suas origens e influência na História, para que sejam estudados os argumentos do anti-semitismo - e assim possamos reconhecê-los no discurso de políticos fascistas como Hugo Chavez e outros.

Saturday, January 14, 2006

AQUI, NÃO

Chamar os judeus de "sábios de Sião" (comentário de Lucas Carvalho no post abaixo) é inaceitável. "Protocolos dos Sábios de Sião" é um texto forjado pela polícia tzarista no século XIX e usado para incitar as populações da Europa Oriental a massacrar judeus. Mais tarde serviu a Hitler para preparar o Holocausto. Hoje em dia, esse panfleto é publicado nos países muçulmanos e estudado nas madrassas como se fosse verdade, para reforçar a tese de que os judeus controlam o mundo através de uma conspiração diabólica. Os genocidas que mataram milhões de judeus, e querem matar os que restaram, usaram e usam esse texto para justificar seus crimes. Esse tipo de comentário deve ser bem-vindo em blogs neonazistas. Aqui, não.
Quanto a perguntas sonsas do tipo "por que os judeus, tão perseguidos, estão sempre se dando bem?", que é exatamente a idéia por trás dos tais "protocolos", a resposta é simples: os judeus são muito unidos e solidários entre eles (ao contrário dos árabes, por exemplo, que vivem se matando uns aos outros); veneram o estudo, a cultura, a erudição e por isso sempre fazem parte da elite intelectual onde quer que vivam; devem ter ótimos genes, resultado da seleção natural num grupo perseguido, pois se destacam em tudo o que fazem. Quanto à questão financeira, que é o que mais causa inveja e ódio: os judeus sempre foram proibidos de possuir terras, portanto para sobreviver só lhes restavam o comércio e as finanças. Assim criou-se a tradição financeira entre eles.
Mas é inerente à espécie humana a necessidade do bode expiatório, do Outro que leva a culpa de tudo o que não queremos enfrentar em nós mesmos. Historicamente, o cristianismo elegeu o judeu como o bode expiatório. E apesar de alguns gestos recentes, as igrejas cristãs ainda estão muito longe de expiar todos os crimes cometidos contra os judeus em nome de Cristo, um judeu.
Os muçulmanos sempre foram muito mais tolerantes em relação aos judeus, até o sucesso da criação de Israel em terras abandonadas pelos latifundiários árabes e por eles vendidas aos primeiros colonos sionistas. Deve ser muito difícil para os árabes enfrentar a realidade de que suas sociedades estão entre as mais atrasadas e opressoras. Se não fosse o petróleo... Assim mesmo, o dinheiro do petróleo não é usado para o desenvolvimento e os árabes importam 92% do que consomem. É bem mais fácil culpar Israel.
Os judeus não chegam a 0,2% da população mundial. Será que assim mesmo não têm o direito de existir em paz?

Friday, January 13, 2006

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o presidente do Irã fez suas ameaças numa conferência intitulada "o mundo sem Sionismo"

A CHANTAGEM NUCLEAR IRANIANA

A decisão iraniana de desafiar o resto do mundo e partir para um programa de armas nucleares é a maior ameaça à paz no momento, e não há muito o que fazer para impedir o Irã de obter um arsenal nuclear.
Alguém acredita na balela de que o Irã, tão rico em petróleo, precisa de energia nuclear para fins pacíficos? O fato de que o Irã enganou repetidamente a Agência Internacional de Energia Atômica sobre o seu programa nuclear é suficiente para demonstrar que não há nada de pacífico nas intenções iranianas. Teerã enrolou os europeus - que a todo custo queriam salvar seus negócios no país - com "negociações" que não levaram a nada. E a decisão de romper os lacres das instalações nucleares, e retomar o programa nuclear abertamente, veio poucas horas depois do derrame que incapacitou Ariel Sharon.
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad sabe que a única ameaça à bomba iraniana seria um ataque preventivo israelense. Por isso a decisão veio exatamente quando Israel perdeu seu líder, um estadista forte e ousado o suficiente para tomar a difícil decisão de livrar o mundo da ameaça iraniana.
Ahmadinejad, na juventude, foi um dos terroristas que ocuparam a embaixada americana e sequestraram os diplomatas por mais de um ano (a única coisa que conseguiram foi eleger Ronald Reagan), e se elegeu numa pseudoeleição, pois o Irã é uma teocracia, não uma democracia como alguns alegam. Recentemente, para incitar a histeria anti-semita que sempre é útil aos regimes totalitários, Ahmadinejad negou que tenha havido o Holocausto e jurou varrer Israel do mapa. Ninguém duvida que ele o fará se puder, e por isso o mundo não pode permitir que o Irã tenha um arsenal nuclear.
Mas o que o mundo pode fazer? Levar a questão ao Conselho de Segurança não vai adiantar nada. A única medida efetiva seria impor sanções econômicas ao Irã, mas isso não pode ser feito porque um embargo ao petróleo do Irã provocaria um novo choque do petróleo e uma recessão mundial. Somos todos reféns do terror iraniano.
Israel, o único país que tem informações confiáveis sobre o programa nuclear iraniano, porque sua sobrevivência depende disso, calcula que em apenas mais um ano será tarde demais, o Irã terá adquirido a capacidade de construir armas nucleares, mesmo que ainda leve uns poucos anos para ser capaz de detonar bombas. Uma vez dominada a produção de urânio enriquecido, o resto é relativamente simples, só uma questão de tempo.
Já que ninguém acredita sinceramente que pressões diplomáticas vão funcionar, a única opção é um ataque preventivo.
Caberia aos Estados Unidos e às outras potências do Conselho de Segurança da ONU tomar esta difícil mas necessária decisão. Não vai acontecer. Os Estados Unidos perderam toda a credibilidade com a guerra no Iraque, vendida com o falso pretexto de impedir Saddam de obter armas nucleares. A China e a Rússia têm interesses econômicos estratégicos no Irã, jamais aprovariam o ataque preventivo. E no fundo não se importam se o Irã vier a ter um arsenal nuclear, até gostariam. Os europeus, sempre em cima do muro, preferem enfiar a cabeça na areia para ver se assim o problema desaparece.
Sobra Israel. Os planos israelenses para o ataque preventivo às instalações iranianas estão prontos há muito tempo. Mas não vai ser tão fácil quanto o ataque à usina iraquiana de Osirak, vendida pelos franceses e destruída por Israel em 1981. Se este ataque não tivesse acontecido, Saddam teria acumulado plutônio para fazer muitas bombas.
Escaldados pela experiência iraquiana, os iranianos espalharam suas instalações nucleares secretas por centenas de locais, enterradas a grande profundidade. Mas Israel possui bombas americanas "bunker buster", capazes de destruir esses laboratórios subterrâneos. Os militares israelenses deixaram vazar que, se a ordem vier, eles conseguirão, senão eliminar, pelo menos incapacitar por muito tempo o programa nuclear iraniano.
Mas é uma covardia do resto do mundo esperar que Israel resolva um problema que é de todos. Um ataque israelense ao Irã certamente daria munição aos inimigos eternos de Israel - o mundo árabe e boa parte do mundo islâmico - para renovar a guerra de extermínio dos judeus que eles movem sem sucesso há quase 60 anos, desde que o estado de Israel foi criado. Seria um grande risco para Israel, mas risco maior é deixar que o Irã possua um arsenal nuclear capaz de varrer Israel do mapa.
O governo israelense, no momento sem liderança clara e às vésperas de uma eleição difícil, prefere esperar para ver o que as potências da ONU vão fazer e se estão à altura do desafio iraniano, dispostas a se sacrificarem economicamente para enfrentar essa ameaça.
Não é preciso ser judeu nem simpatizar com Israel para ver que o estado judeu tem todo o direito de agir em legítima defesa antes que seja tarde demais.

No último Montblaat, número 138, o leitor Antonio Fagundes me pergunta quem foi o responsável pelo massacre de Sabra e Shatila. Resposta: foi o libanês Elie Hobeika, comandante da milícia cristã, a Falange, que invadiu os acmpamentos de refugiados palestinos e chacinou centenas de civis. Alega-se que o ministro da Defesa Ariel Sharon teria sido o responsável pelo massacre porque teria podido impedi-lo se quisesse, mas isso nunca foi provado. Uma comissão de investigação israelense recomendou a demissão de Sharon do cargo, o que foi feito, acusando-o de “responsabilidade política”. Mas se houvesse provas de cumplicidade no massacre, Sharon teria sido processado criminalmente, o que não aconteceu. Ele sempre negou que tivesse conhecimento do que os falangistas estavam fazendo. Em 1987 a revista Time publicou uma reportagem acusando Sharon de cumplicidade no massacre. Sharon processou a revista. O júri decidiu que as acusações da revista eram falsas, mas pela lei americana teria sido preciso provar que a Time tinha a intenção de difamar Sharon, o que não foi provado. Só por isso Sharon perdeu o processo. Outra tentativa de incriminar Sharon, num processo na Bélgica, foi rejeitada pelo tribunal superior belga em 2003.
O verdadeiro responsável, Elie Hobeika, nunca foi processado e se tornou ministro no governo do Líbano em 1990. Logo após o massacre, Hobeika se aliou à Síria, o país vizinho que ocupou o Líbano até o ano passado. Uma das versões para o motivo do massacre de Sabra e Shatila é que Hobeika já estava em aliança com os sírios e chacinou os palestinos para incriminar Israel. Deu certo.
Quanto à reclamação do leitor, de que eu sou “engajado”, acredito que todo jornalista deve ter engajamento com a verdade, e procurar apurar os fatos em vez de seguir preconceitos, como o de que Ariel Sharon seria um “carniceiro”.

Quanto à afirmação no artigo de Leneide Duarte Plon, no mesmo Montblaat, de que o livro de Amnon Kapeliouk sobre Arafat “prova que a direita do movimento sionista tentou uma colaboração com os nazistas”, seria interessante saber que prova é essa. Ela fala de uma “carta”. Investigou se existe mesmo essa carta e quem a escreveu?
Nenhuma referência, é claro, ao fato mais do que comprovado de que Arafat era um seguidor devotado do líder nazista palestino, o grande mufti de Jerusalém, este sim um aliado de Hitler.
É cômico ler a referência à “imparcialidade” de Kapeliouk, um antigo aliado de Arafat (da época em que este era assumidamente um líder terrorista, e não um candidato ao prêmio Nobel da Paz), notório falsificador de informações (ver por exemplo a famosa “citação” que Kapeliouk fez de Menachem Begin, sobre os palestinos serem “bestas humanas”, comprovadamente distorcida) e explorador da causa palestina para construir sua fama como jornalista na França.
Kapeliouk é um dos maiores responsáveis pela lamentável devoção a Arafat na França. O que não surpreende já que o anti-semitismo está profundamente enraizado no país desde os tempos do santo francês, São Luís, o rei Luís IX, aquele que mandou queimar 10 mil cópias do Talmud em Paris e expulsou os judeus da França depois do fracasso da primeira cruzada que comandou. Bem que a França poderia tentar a canonização de Arafat. São Yasser faria boa companhia a São Luís.

Sunday, January 08, 2006

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Soneto da Fidelidade

Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e darramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



Olha como é bom ter um blog. Graças a um leitor assíduo descobri - ó ignorância minha! - que 2006 é o ano do centenário da morte de Cézanne, um dos meus pintores mais queridos. Seguem os links que ele me mandou.

Cézanne 2006

Quadros de Cézanne no Google

Cézanne en Provence

Atelier Cézanne (animação)

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Poema Enjoadinho

Vinicius de Moraes


Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!


Mozart ao piano, tela inacabada do cunhado de Mozart, Joseph Lange, nove anos antes da morte do compositor

Dia 27 da janeiro, 250 anos do nascimento de Mozart. O nome de batismo dele é João Crisóstomo, nome do santo do dia. Mas ficou conhecido pelo terceiro prenome, Wolfgang e, mais ainda, pelo quarto prenome, Gottlieb, que Mozart mudou para Amadeus, o amado de Deus.
Vai ser difícil escapar de Mozart este ano, mas não há risco de overdose, Mozart nunca é demais. Um documentário que está indo ao ar na Inglaterra e vai girar o mundo, In Search of Mozart, defende a tese de que ele é o Shakespeare da música - nenhum compositor chega perto em riqueza de temas, emoções, personagens. Se Shakespeare inventou o humano, como quer Harold Bloom, Mozart deu, ao humano, música.
Quem tiver grana, e paciência para enfrentar as multidões e o calor em agosto, em Salzburg, a cidade natal de Mozart, vai poder ver as 22 óperas que ele compôs. Mozart odiava Salzburg e assim que pôde deixou a cidade para nunca mais voltar. Viena é mais apropriada para lembrá-lo. Mas não é preciso ir longe, basta botar um disco para tocar. Como diz alguém no documentário inglês, Mozart é um amigo íntimo.
Graças ao meu avô eu cresci ouvindo Mozart. Uma peça que eu não canso de ouvir é o concerto em Mi bemol, K. 271, n. 9, também conhecido como Concerto Jeunehomme porque foi composto para a pianista Mlle. Jeunehomme. Albert Einstein disse que esta é "a Heróica de Mozart", comparando o concerto à sinfonia Heróica de Beethoven.
Mozart tinha 21 anos quando compôs este concerto, onde revela arroubos românticos, originalidade e ousadia. Aqui vai o terceiro movimento, Rondeau/ Presto, que contem uma jóia, uma surpresa: um minueto de beleza única, de chorar de bonito. Com Alfred Brendel e a orquestra St Martin in the Fields conduzida por Neville Marriner.

Rondeau/Presto, Concerto n. 9 para piano e orquestra

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Estas receitas são para quem vive dizendo que não sabe nem cozinhar ovo. Não há nada mais fácil.
É uma delícia surpreender a pessoa amada num domingo preguiçoso com um café da manhã na cama, bem gostoso. Dá motivo para aprender pelo menos a cozinhar ovo.

OVOS MEXIDOS POCHÉ

Esta saiu hoje na revista do New York Times. Fiz e deu certo.
Usei quatro ovos, para dois. Enquanto a água bem salgada ferve na panela, quebrei cuidadosamente numa tigela os quatro ovos, escorrendo cada um numa colher grande furada, para separar a "clara aguada". O ovo de supermercado com o tempo vai ficando com a clara fina demais, como água. Para esta receita dar certo é preciso usar só a gema com a clara mais grossa que adere à gema. É facílimo separar, jogando fora a parte "aguada" da clara.
Bati os quatro ovos com um garfo, bem batidos. Não se deve salgar os ovos batidos porque o sal destrói a estrutura das proteínas do ovo. O sal é colocado na água antes de ferver.
Quando a água ferveu, fiz um rodamoinho na água mexendo depressa com uma colher. Entornei os ovos batidos, aos poucos, na água em movimento. Isso impede que os ovos desçam para o fundo da panela. Tampei a panela e contei até 20. Apaguei a chama e tirei a panela do fogão. Segurando os ovos mexidos com uma colher grande, escorri a água numa peneira e depois entornei os ovos na peneira. Com a colher, espremi toda a água dos ovos com cuidado para não quebrar a massa. Fica parecendo uma nuvem amarelo-clara, bem solta.
Temperei com sal e pimenta e servi com pãezinhos árabes torrados.

ovos mexidos poché


OVOS QUENTES

Esta é ainda mais simples. É só ferver a água e botar nela os ovos (na temperatura ambiente, retirar da geladeira muito antes de usar). Quatro minutos e meio depois, retirar do fogo, botar os ovos em água fria e descascá-los com cuidado para não quebrar as claras, que estarão quase duras. A gema fica mole. Servir com torradas, sal e pimenta do reino.

OVOS COM SALMÃO E CAVIAR

Esta é para grandes ocasiões, como o aniversário de casamento ou o dia dos namorados, dia das mães, etc. Receita de Zé Hugo Celidônio que Edinha Diniz nos ensinou a fazer.
Untar com manteiga uma tigelinha que possa ir ao forno de microondas. No fundo, botar uma camada fina de creme de leite, coberta por uma fatia de salmão defumado e por cima quebrar dois ovos - cuidado para não quebrar as gemas. Sal e pimenta. Cobrir com caviar.
Levar ao forno de microondas até a clara começar a endurecer, dependendo da potência do forno, dois ou três minutos. Servir na tigelinha, com torradas.

OMELETE

Ensinada por Sérgio Flaksman, que é campeão de omelete.
Bater os ovos (dois por pessoa) adicionando um pouco de água fria para a omelete ficar bem leve. Fritar em um pouco de manteiga. Jogar por cima cebolinha verde picada.
Usar uma espátula grande para ir virando a omelete à medida que ela for endurecendo, formando um envelope. Deixar o miolo da omelete bem cremoso - em francês, é a omelete "baveuse", com baba.
Cuidado ao retirar da frigideira para não quebrar a omelete.

OVO POCHÉ

Separar a clara aguada, como na primeira receita, mas, em vez de bater o ovo, colocá-lo inteiro na água fervendo, na qual se terá acrescentado uma colher de vinagre para ajudar o ovo a flutuar.
Retirar da água com escumadeira, com cuidado para não quebrar, quando a clara ficar branca e quase dura, uns dois a três minutos. Servir sobre torrada.
William Blake, Os Amantes, ilustração para o Paraíso de Dante

REVEILLON COM OS MEUS
Anna Maria Ribeiro

Olho incrédula para o convite: Reveillon da Terceira Idade! Eu, heim?! Até pra convite sou assim, rotulada! Irritada, rasgo o cartão. Mas ficam martelando em minha cabeça, o valor do ingresso e a programação anunciada: cem reais para ouvir orquestra do “nosso tempo”. Engraçado! Não falaram em dançar... Vai ver acham que seria demasiado esforço ou mesmo uma impossibilidade. E penso, maldosa: no caso o ouvir também pode ser uma impossibilidade! Pior é o alerta: você estará entre os seus! Que meus, cara pálida?! Coisa mais maluca. Sabem eles lá quem são os meus? Pra falar a verdade nem mesmo eu conseguiria relacionar, naquele momento, todos os meus de minha já tão longa vida. Vida passada entre meus antigos que sumiram ou partiram, meus que sempre o foram e permanecem sendo, meus novos que chegam sem aviso numa surpresa gostosa. E, certamente, novos ainda meus surgirão. Jamais imaginei classificá-los por idade. Este nunca foi um dado determinante de minhas inclusões na categoria meus. Outro dia mesmo um novo meu surgiu trazendo solução para um grande problema: o filho de seu Álvaro. Seu Álvaro era um meu há mais de 40 anos. Um encanto de pessoa que manteve viva e ativa a jurássica máquina de lavar que teimava em conservar. Mas seu Álvaro se foi. Doeu. Seu Álvaro fez falta. Era um meu de respeito. Mas eis que o filho de seu Álvaro – Alvinho – que já conhecia pelas histórias do pai na hora do cafezinho, veio em meu socorro. O mesmo jeito, o mesmo sorriso, a mesma tranqüilidade de resolver qualquer enguiço. Tornou-se um meu. Não vou passar o reveillon com ele, mas se isto acontecesse teria o maior sentido. A Jô, faxineira, também não vai passar o reveillon comigo. Não tenho a menor idéia de onde estará ela nesta hora festejada. Provavelmente com o namorado, cego de um olho, um negão pra lá de simpático e a filha, mulata linda de morrer. Jô é um dos melhores meus que tenho. Com ela nunca passei o reveillon, mas passo a vida, desde sei lá quando, no diário do macio das roupas lavadas e da casa mais que limpa, onde ela deixa sua presença perfumada quando se vai. E o Zé porteiro? Com este até que passei um reveillon. Havia decidido que não decidiria por qualquer dos lugares possíveis em companhia de meus viventes. Queria mais era ficar em casa sozinha, mas não solitária, com meus livros, com meus discos e com os meus que se foram, sempre presentes e atuais e com os quais mantenho, esquizofrênica, longas e deliciosas conversas. Quase à meia noite lembrei que o Zé estava de serviço na portaria. Atraquei-me a uma garrafa de champagne e a duas taças e precipitei-me elevador abaixo. Ficamos conversando tomando champagne e ouvindo o barulho dos fogos. Ele já era um meu, desde que tinha vindo morar ali e vigiava meu filho mais moço, um pequeno demônio. Nesta noite Zé ficou sendo mais meu ainda de tanto que conversamos sobre os respectivos seus. Um pensamento ataca: tenho meus da minha idade? Sorrio na lembrança das “primas”. A mais moça nos recém sessenta e a mais velha regulando comigo. São sete ao todo. Vez por outra se reúnem para um chá. O último foi até de madrugada. Em cada um destes chás revelações estarrecedoras se fazem. Segredos da mocidade e da infância que foram assim classificados porque na época sua revelação teria efeitos devastadores nos mais velhos da família. “Você também namorou Roberto?!!!” A descoberta de que o belo primo conquistou de forma seqüencial três de nós, sem que ninguém jamais houvesse desconfiado, provoca gargalhadas. Positivamente as primas são meus. Mas a maioria, a grande maioria dos meus é jovem, muito mais jovens do que eu. O mais moço é Ricardinho que está com uns cinco anos e que continua a tentar atropelar-me no pilotis, agora com uma bicicleta ao invés de velocípede. Ricardinho provavelmente estará dormindo na hora da virada e não seria razoável convidá-lo para um reveillon. Ele é um meu matinal. Lá isto é. E os meus de carteirinha? Amigos daqueles que aceitam a gente pelo conjunto da obra seja esta obra boa ou não. São poucos, mas são meus pra valer, para o que der e vier. E tem os meus cadeira cativa, atávicos. Os filhos, o irmão, a cunhada, os sobrinhos, as netas, seus namorados, o genro e a nora. Esta última é recente. Um meu surgido na surpresa que me deixou sem fala ao anúncio do filho (aquele que era um demônio!): “vou me casar na semana que vem!” E não é que a menina tornou-se um meu dos melhores? Nunca os reuni a todos num reveillon. E precisa? Sempre que estão juntos, a visão do que foram e do que – imagino – serão, se faz presente. É só pousar o olhar em cada um deles e os vejo com a nitidez e a beleza de um filme de época, desde que surgiram e se instalaram como meus. O sonho e o desejo fabricam a visão do pra frente lá deles, num ano novo que se anuncia todos os dias. Dou-me conta que ainda não decidi sobre o reveillon deste ano. Mas uma coisa é certa, esteja onde estiver, estarão nele presentes, na realidade ou na lembrança, todos os meus de minha vida. Como sempre.
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PAZ PARA SHARON

Estou escrevendo no domingo quando as chances de Ariel Sharon sobreviver são pequenas e as de que ele volte a governar Israel são nulas.
Durante muito tempo Sharon foi chamado de "açougueiro" e "genocida". Mas agora que a vida dele está chegando ao fim é possível fazer um balanço de cabeça fria e ver o que ele fez de positivo.
Até a mídia árabe está lamentando a partida de Sharon, agora visto como o único líder israelense que poderia fazer alguma coisa para sair do impasse na guerra entra árabes e israelenses iniciada há 58 anos.
Não dá para esquecer que essa guerra começou com a invasão de Israel por todos os lados por quatro exércitos árabes, assim que a ONU aprovou a divisão da Palestina em um estado judeu e outro árabe, plano que os árabes nunca aceitaram. Desde então Israel luta por sua sobrevivência. O secretário geral da Liga Árabe em 1948, Abdul Razek Azzam Pasha foi muito claro: "Esta é uma guerra de extermínio".
O líder ideológico e político dessa guerra de extermínio dos judeus no Oriente Médio era o Grande Mufti (líder muçulmano oficial) de Jerusalém, Haj Amin Al-Husseini, um dos piores criminosos de guerra e terroristas do século XX, mentor e herói de seu sucessor Yasser Arafat.

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O Grande Mufti de Jerusalém, Al-Husseini, com Hitler em Berlim

Al-Husseini fracassou na tentativa de comandar uma rebelião dos árabes na Palestina contra os britânicos e os judeus, e partiu para Berlim onde encontrou Hitler em 1941. Passou a transmitir por rádio, da Alemanha, programas em que incitava os árabes a "matar judeus onde quer que se encontrem". Pregou a adoção da "solução final" nazista na Palestina. Trabalhou ativamente, com sucesso, para mandar crianças judias para os campos de extermínio. Comandou um fracassado ataque terrorista contra Tel Aviv, com armas biológicas para contaminar a água da cidade. Foram capturados a tempo paraquedistas palestinos enviados por Al-Husseini com 10 recipientes contendo toxinas. Cada um teria a capacidade de matar 25 mil pessoas.
Tendo fracassado em comandar a guerra contra Israel em 1947-48 - que terminou com a debandada dos exércitos árabes - Al-Husseini escapou de ser julgado como criminoso de guerra refugiando-se no Egito, onde morreu tranquilo e cultuado como herói da causa palestina, em 1974.
Seus seguidores continuam massacrando civis israelenses e incitando os jovens árabes a morrer explodindo suas bombas covardemente em meio a inocentes, aplaudidos pelos palestinos e seus cúmplices como "mártires".
É contra essa determinação, não só dos árabes, mas de outros povos islâmicos, como os iranianos, de exterminar os judeus, que Israel luta há 58 anos. Nada que Sharon tenha feito, ou sido acusado de fazer, chega perto dos crimes hediondos cometidos pelos árabes contra os judeus.
Se Israel não se defendesse, os muçulmanos executariam um novo Holocausto - e a possibilidade de que o Irã e outras potências islâmicas adquiram armas nucleares torna esse genocídio ainda mais possível. O novo presidente do Irã deixou isso bem claro. Se Israel não tivesse armas nucleares, talvez já tivesse acontecido.
Sharon foi muito atacado com o pretexto de que teria bloqueado a criação de um estado palestino. A verdade é que os palestinos tiveram a maior chance de criar esse estado - depois de terem rejeitado o plano da ONU em 1947 - nas negociações mediadas por Bill Clinton em 2000. Mas embora Israel tenha feito a melhor oferta possível de devolução dos territórios ocupados, Arafat recusou a paz. Preferiu apostar no terror e no extermínio dos judeus. Arafat nunca acreditou na divisão da Palestina e é uma vergonha que esse seguidor do Grande Mufti tenha recebido o prêmio Nobel da Paz.
A "segunda intifada", que já estava planejada quando Arafat repudiou a paz, é atribuída por muitos à "provocação" de Sharon ao visitar o monte do Templo. Mais uma inverdade. A estratégia palestina sempre foi de usar o terrorismo contra civis para quebrar o moral israelense, mas Sharon conseguiu derrotar a segunda intifada. E, na decisão mais corajosa que um líder israelense poderia tomar, retirou os colonos de Gaza, primeira etapa para a devolução dos territórios ocupados e a criação do estado palestino. Por isso ganhou o respeito da mídia árabe moderada, que agora lamenta ter perdido Sharon, o único líder israelense com força e coragem para romper o impasse.
Agora é impossível prever o que vem por aí. Provavelmente, mais violência, já que no lado palestino o poder real está com os terroristas do Hamas, decididos a destruir Israel. O estado judeu vai ter que continuar lutando para impedir um novo Holocausto. E os cúmplices dos terroristas vão continuar acusando os israelenses de "genocidas" e "açougueiros".

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Anna Maria me mandou este belo video: Bill Clinton e a cantora israelense de 16 anos Liel Kolet, cantando Imagine, acompanhados por um coro de crianças israelenses e palestinas. Foi gravado na festa de 80 anos de Shimon Peres em 2004.