Thursday, August 20, 2009
Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?
Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...
Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?
Fernando Pessoa, Cancioneiro
Is it raining? No, there's no rain...
Then where do I feel there's a day
In which the sound of rain conveys
The weight of my useless pain?
Where is this rain I hear nonstop?
Where is it sad, o skies that shine?
I'd smile at you but I can not,
O sky of blue, nor call you mine...
And the sound of the rain is dark,
Constant in my imagining.
I am the invisible arc
Incised by the howling wind...
And now before the blue of day,
As if the hour turned a vise,
I suffer... What is light and gay
Falls to my feet as a disguise.
Oh, it rains always in my soul.
Inside of me there's always gloom.
I hear, and someone in me knows,
The sound of rain, a voice of doom...
When will I turn into your hue,
Your placidity, charm and cheer,
O luminous external blue,
Sky more useful than my tears?
tradução Jorge Pontual
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