

As anjas de Goya - las ángelas - são quase um segredo. Moram na pequena capela da Ermida de Santo Antonio onde Goya está enterrado. É um museu da prefeitura (ayuntamento) de Madri e talvez por isso não esteja nos guias turísticos com tanto destaque quanto o Museu do Prado e outros, ricos em obras-primas de Goya. É difícil achar a capelinha.

De tudo que eu e Angela vimos em Madri, nada chega perto. Passamos quase um dia todo lá.
Goya pintou os afrescos que decoram a pequena capela em 1798. Ali, à beira do rio Manzanares, longe do centro da cidade, ficava um lugar de peregrinação com uma imagem milagrosa de Santo Antonio de Pádua. Os madrilenhos eram devotos do santo português.

O afresco principal, na abóboda, mostra o milagre de Santo Antonio. Um milagre curioso. O pai do santo tinha sido acusado de assassinato. Santo Antonio ressuscitou o assassinado, que exonorou o pai do santo e voltou ao túmulo.

Em torno da cena do milagre, Goya pintou, em vez da Lisboa medieval, a Madri do seu tempo, com majas e majos, jovens que trocam olhares namoradores, e uma série de tipos populares.


Mas o que arrebata o olhar é o cortejo de anjas nas paredes da capela.


São majas, belas madrilenhas, sensuais e faceiras, com asas angelicais.


São elas que cercam o túmulo do pintor, no monumento fúnebre mais festivo e vital que já se viu.



