Sunday, January 12, 2014

A poem by Fernando Pessoa
translated by Jorge Pontual
for Richard Serra.


The rain? No, no there is no rain...
Then, where is this day that I feel
In which the sound of rain is real,
Inviting my useless pain?

Where is this rain that I can hear?
Where this sadness, o sky so clear?
I want but I can't smile at you
And call you mine, o sky of blue...

And the rain's everlasting din
In my mind is forever dark.
I am the invisible arc
Chiseled by the howl of the wind...

And so, facing the blue of day
As if presaging my demise,
I grieve... And whatever is gay
Falls to my feet as a disguise.

It's always raining in my soul.
Inside of me there is a hole.
Someone hears in my inner room
The rain, rain as a voice of doom...

When will I turn into your hue,
Into your placid, charming cheer,
O luminous, external blue,
O sky more useful than my tears?


Chove ? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia ?

Onde é que chove, que eu o ouço ?
Onde é que é triste, ó claro céu ?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...

E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse, Eu sofro...
E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...

Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?

 
Fernando Pessoa, Richard Serra