Saturday, December 01, 2007

Gustavo Dudamel

Gustavo Dudamel

Fui ver a nova sensação da música clássica, o maestro venezuelano Gustavo Dudamel, 26 anos, regendo pela primeira vez a New York Philarmonic. Ele arrasou. Levantou o astral de todo mundo, orquestra e público, aplaudido de pé aos gritos de Bravo!
Lavou a alma.
Coisa inédita, a orquestra deixou que ele usasse uma das batutas de Leonard Bernstein. Quando Gustavo tinha quatro anos, no interior da Venezuela, brincava de ser maestro e regia os brinquedos dele ao som de gravações de Bernstein.
Em 2009, Dudamel vai assumir a Filarmônica de Los Angeles. Atualmente ele rege uma orquestra sueca e a Orquestra Jovem Simon Bolivar em Caracas.
Ele é a jóia da coroa de uma das mais fabulosas experiências educacionais do mundo, o Sistema de Educação Musical da Venezuela, criado pelo maestro e economista José Antonio Abreu em 1975. Hoje, graças ao apoio do governo Chavez, o sistema atende a 250 mil estudantes de música, que ganham do estado seus instrumentos e eduçação gratuita e tocam em 125 orquestras, das quais 30 são profissionais. São na maioria (90%) crianças pobres, meninos de rua, delinquentes que em países como o Brasil estariam na Febem ou na rua. A orquestra Simon Bolivar esteve recentemente no Carnegie Hall, trazida pela Filarmônica de Berlim, regida por Gustavo, e deslumbrou público e crítica. Não fica nada a dever às melhores orquestras do mundo.
Ver Gustavo Dudamel reger é um prazer. A alegria e o entusiasmo dele são contagiantes. Tive a sorte de conseguir um lugar lateral perto da orquestra e pude ver as mãos e o rosto dele. Sei que é clichê mas não resisto: é um maestro que vive a música que rege. Ele "toca" a orquestra como um instrumento, com gestos precisos, de uma variedade e uma beleza impressionantes. E a batuta de Lenny Bernstein na mão dele flutuava, dançava sobre a orquestra. No fim, enquanto o público aplaudia de pé sem parar, Gustavo entrou pela orquestra cumprimentando os músicos um a um. Nunca vi isso antes.
Para completar, a pièce de résistance do concerto foi minha sinfonia favorita, a Quinta de Prokofiev. É o ponto máximo da música no século XX. Profundamente otimista, alegre, grandiosa. Escrita no fim da Segunda Guerra, quando os soviéticos deram a virada que derrotou o nazismo, é a sinfonia da vitória, embora tenha estreado poucos meses antes do fim dos combates na Europa.
A interpretação de Dudamel é como a de Bernstein, perfeita, empolgante, e dava vontade de aplaudir a cada movimento, como faziam antigamente (agora não é mais de bom tom). É a expressão em música daquilo que a União Soviética, apesar de Stalin, simbolizou por muito tempo: um futuro heróico, fraternal, cheio de esperança e alegria.
Aí vai, na versão de Seiji Ozawa com a Filarmônica de Berlim, o segundo movimento, Allegro Marcato:

Prokofiev, Sinfonia n. 5, Allegro Marcato

1 comment:

Anonymous said...

belíssimo.
grata pelo presente.
Mariana