É aqui a choça sagrada
onde essa moça arrumada,
tranquila e bem preparada,
o cotovelo no colchão,
ouve cantar o ribeirão;
é de Dorotéia a morada.
-- Da brisa e da água, a canção,
longe, por soluços marcada,
nina a menina mimada.
De cima a baixo, com atenção,
a pele tenra é esfregada,
com óleo de manjericão.
-- E as flores se espalham no chão.
Sunday, August 24, 2014
Thursday, August 21, 2014
Que a América Seja a América, Langston Hughes
Tradução e adaptação, Jorge Pontual
Que a América seja a América de novo,
seja o sonho que costumava ser,
seja a grande terra forte do amor
onde nenhum homem pode ser esmagado pelos de cima,
uma terra onde a
oportunidade seja real, a vida seja livre,
a igualdade esteja no ar que a gente respira.
Nunca houve igualdade pra mim,
nem liberdade nesta terra de homens livres.
Eu sou o branco pobre, enganado e excluído,
eu sou o negro com as cicatrizes da escravidão,
sou o índio expulso da terra,
sou o jovem cheio de força e esperança
preso à antiga corrente sem fim
do lucro, do poder, da sanha
de possuir tudo por pura ganância.
Eu sou o agricultor preso ao solo,
sou o trabalhador vendido à máquina,
sou o negro que serve a todos,
sou o povo, humilde, faminto, pequeno.
Que a América seja a América de novo,
a terra que ainda não é
mas tem que ser – a terra onde todo homem é livre.
A América nunca foi a América pra mim,
mas eu faço este juramento:
a América será!
Nós, o povo, temos que redimir
a terra, as minas, as plantas, os rios,
as montanhas e a planície sem fim
e fazer a América nascer de novo!
Tradução e adaptação, Jorge Pontual
Que a América seja a América de novo,
seja o sonho que costumava ser,
seja a grande terra forte do amor
onde nenhum homem pode ser esmagado pelos de cima,
uma terra onde a
oportunidade seja real, a vida seja livre,
a igualdade esteja no ar que a gente respira.
Nunca houve igualdade pra mim,
nem liberdade nesta terra de homens livres.
Eu sou o branco pobre, enganado e excluído,
eu sou o negro com as cicatrizes da escravidão,
sou o índio expulso da terra,
sou o jovem cheio de força e esperança
preso à antiga corrente sem fim
do lucro, do poder, da sanha
de possuir tudo por pura ganância.
Eu sou o agricultor preso ao solo,
sou o trabalhador vendido à máquina,
sou o negro que serve a todos,
sou o povo, humilde, faminto, pequeno.
Que a América seja a América de novo,
a terra que ainda não é
mas tem que ser – a terra onde todo homem é livre.
A América nunca foi a América pra mim,
mas eu faço este juramento:
a América será!
Nós, o povo, temos que redimir
a terra, as minas, as plantas, os rios,
as montanhas e a planície sem fim
e fazer a América nascer de novo!
Sunday, August 17, 2014
Dylan Thomas, Não entre na noite pra se render
Tradução de Jorge Pontual
Não entre na noite pra se render,
Velhice é pra arder até o fim,
Lute, lute para a luz não morrer.
O sábio aceita bem o escurecer
Mas tem palavras de luz e por fim
Não entra na noite pra se render.
O justo, que ao partir irá sofrer
Porque não lhe coube um melhor jardim,
Luta, luta para a luz não morrer.
O rude que põe o sol pra correr,
E vê tarde demais o que é ruim,
Não entra na noite pra se render.
O sério, ao pé da morte, já sem ver,
Acesos os olhos, alegre enfim,
Luta, luta para a luz não morrer.
E você meu pai, triste de se ver,
Amaldiçoe, abençoe-me assim.
Não entre na noite pra se render,
Lute, lute para a luz não morrer.
Tradução de Jorge Pontual
Não entre na noite pra se render,
Velhice é pra arder até o fim,
Lute, lute para a luz não morrer.
O sábio aceita bem o escurecer
Mas tem palavras de luz e por fim
Não entra na noite pra se render.
O justo, que ao partir irá sofrer
Porque não lhe coube um melhor jardim,
Luta, luta para a luz não morrer.
O rude que põe o sol pra correr,
E vê tarde demais o que é ruim,
Não entra na noite pra se render.
O sério, ao pé da morte, já sem ver,
Acesos os olhos, alegre enfim,
Luta, luta para a luz não morrer.
E você meu pai, triste de se ver,
Amaldiçoe, abençoe-me assim.
Não entre na noite pra se render,
Lute, lute para a luz não morrer.
Primeira tradução (a ser melhorada) de Do not go gentle into the good night, Dylan Thomas:
Não seja a noite uma suave cama,
Velhice é pra arder até o fim,
Ruge, ruge contra a morte da chama.
Sábio é aquele que a escuridão ama,
Mas tem palavras de luz e por fim
Não quer na noite uma suave cama.
O justo que ao se despedir reclama
Que não lhe coube um melhor jardim
Ruge, ruge contra a morte da chama.
O selvagem que o sol conquista e clama
E vê tarde demais o que é ruim
Não tem na noite uma suave cama.
À morte, o sério, cego, exclama
Que os olhos cegos, alegres enfim,
Rugem, rugem contra a morte da chama.
E você meu pai, nessa triste fama,
Amaldiçoa, abençoa-me assim.
Não faz da noite uma suave cama,
Ruge, ruge contra a morte da chama.
Não seja a noite uma suave cama,
Velhice é pra arder até o fim,
Ruge, ruge contra a morte da chama.
Sábio é aquele que a escuridão ama,
Mas tem palavras de luz e por fim
Não quer na noite uma suave cama.
O justo que ao se despedir reclama
Que não lhe coube um melhor jardim
Ruge, ruge contra a morte da chama.
O selvagem que o sol conquista e clama
E vê tarde demais o que é ruim
Não tem na noite uma suave cama.
À morte, o sério, cego, exclama
Que os olhos cegos, alegres enfim,
Rugem, rugem contra a morte da chama.
E você meu pai, nessa triste fama,
Amaldiçoa, abençoa-me assim.
Não faz da noite uma suave cama,
Ruge, ruge contra a morte da chama.
Saturday, August 02, 2014
Seis sonetos de Michelangelo, tradução Jorge Pontual
Com os belos olhos teus vejo a luz clara
que com os meus, cegos, já não posso olhar;
com teus pés posso um peso carregar,
o que pra mim, manco, é coisa rara.
Com tuas asas pra sempre eu voara;
com teu engenho ao céu posso chegar;
fazes-me empalidecer ou corar,
gelado ao sol, na neve, um Saara.
O teu querer é só o querer meu,
meu sentimento nasce no teu peito,
no teu alento a minha voz busquei.
Como lua solitária sou eu,
que no céu não se pode ver direito
a não ser que reflita o astro-rei.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/89._Veggio_co%27_be%27_vostr%27occhi_un_dolce_lume
se um só destino dois amantes casa,
se o infortúnio a um e ao outro arrasa,
se um só querer dois corações governa;
se um’alma em dois corpos se faz eterna,
ambos levando ao céu com a mesma asa;
se o amor de um golpe só com ferro em brasa
crava de dois peitos a carne terna;
se amar ao outro, e a si mesmo não,
com gosto e devoção, com tal mercê
que o que queira um, o outro ponha:
se milhares sem fim são só fração
de tal laço de amor, de tanta fé;
só o pode romper fúria medonha.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/59._S%27un_casto_amor,_s%27una_piet%C3%A0_superna
Sabes que eu sei que sabes, meu senhor,
que vim para gozar-te mais de perto;
sabes que eu sei que sabes o que quero:
por que então não declarar o amor?
Se a esperança que me dás tem valor,
se bom e verdadeiro é o meu desejo,
rompa-se o muro que entre nós eu vejo,
pois força dupla tem a muda dor.
Se só amo em ti, meu senhor querido,
o que em ti mais amas, não fiques bravo;
meu espírito ao teu está unido.
Do engenho humano é mal compreendido
o que em tua beleza almejo e gravo;
quem quiser ver, melhor já ter morrido.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/60._Tu_sa%27_ch%27i%27_so,_signor_mie,_che_tu_sai
Vejo em seu belo rosto, senhor meu,
o que narrar mal posso nesta vida:
a alma, de carne ainda vestida,
assim, há muito, a Deus ascendeu.
E se o mesquinho e estúpido plebeu
me acusa da sua gula enrustida,
não é menor a gratidão vivida,
o amor, a fé e o bom desejo meu.
Daquela divina fonte se mostra
toda a beleza que aqui se vê,
mais que outra coisa, à pessoa de sorte;
não há outro fruto nem outra amostra
do céu na terra; por amar você
transcendo a Deus e faço doce a morte.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/83._Veggio_nel_tuo_bel_viso,_signor_mio
Quero a mim mesmo, mais que no passado;
por ter você na alma, mais eu valho,
como o bloco de pedra que eu entalho
mais do que a simples rocha é prezado.
Ou como o papel escrito ou pintado
tem mais valor do que qualquer retalho,
também eu, um romântico grisalho,
pelo amor ao seu rosto fui marcado.
Seguro em toda parte, em desafogo
vou, como quem, por fé ou armas ter,
diante do perigo vai sereno.
Eu valho contra a água e contra o fogo,
Com seu olhar os cegos faço ver,
e meu cuspe cura qualquer veneno.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/90._I%27_mi_son_caro_assai_pi%C3%B9_ch%27i%27_non_soglio
Não sei se é a desejada luz,
vinda do Criador, que a alma sente,
ou se é pela memória da gente
que outra beleza o coração traduz;
ou se fama, ou se sonho, alguém produz,
aos olhos e ao coração presente,
de si deixando um não-sei-quê tão quente
que é o que a chorar me conduz.
O que sinto e que busco e que me guia
meu não é; e não sei bem ver a meta
que achar eu possa com os olhos meus.
Desde que o vi, senhor, tal fidalguia,
um doce-amargo, um sim-e-não me inquieta:
Terão sido decerto os olhos seus.
http://it.wikisource.org/wiki/Rime_(Michelangelo)/76._Non_so_se_s%27%C3%A8_la_des%C3%AFata_luce
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