Saturday, December 20, 2008
Blog do ano
A cubana Yoani Sánchez é a blogueira do ano. Autora a partir de abril de 2007 do blog Generación Y, ganhou vários prêmios, entre eles o BOBS (Best of Blogs) dado na Alemanha e o Ortega y Gasset de jornalismo digital, na Espanha, e entrou na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008 da revista Time.
Yoani e o marido, o jornalista Reinaldo Escobar, criaram o portal DesdeCuba, onde há links para vários blogs cubanos, revistas digitais, informação independente. É o primeiro veículo livre de informação em Cuba.
É bem mais fácil acessar o portal do exterior do que de Cuba. O governo faz tudo para impedir, com filtros que bloqueiam o portal. E os cubanos não podem ter acesso à Internet em casa. Nos cybercafés e outros pontos de acesso, a hora de Internet custa um terço do salário médio mensal do cubano. Um absurdo.
Yoani e seus companheiros blogueiros foram proibidos de realizar o primeiro encontro de bloggers em Cuba, este ano, mas vão tentar de novo ano que vem (o encontro aconteceu assim mesmo, virtual).
Ela também foi proibida de viajar à Espanha para receber o prêmio Ortega y Gasset.
Trecho final do discurso de agradecimento, que Yoani acabou fazendo em casa, em Havana, para a família e amigos:
"Em vez de comprar um motor para cruzar o mar numa balsa até a Flórida, tornei-me um balseira virtual. Escapei, não do meu país, mas do medo, da paranóia e do conformismo. Finalmente cheguei, nesta balsa-blog, a uma terra ao mesmo tempo gratificante e dolorosa, de onde a responsabilidade cívica não me permite voltar. Agora tenho duas vidas, uma real, compartimentalizada e controlada, onde ouço ordens, slogans e conclamações à luta; a outra virtual, imensa e livre, onde começo a me sentir cidadã".
Vejam a entrevista em cinco partes que Yoani deu ao italiano Roberto Ferranti
Estes são alguns dos 24 jornalistas presos em Cuba, que cumprem penas entre 15 anos e prisão perpétua e estão entre os 246 presos políticos da ilha. Um deles, Ricardo González Alonso, foi escolhido pela organização Repórteres Sem Fronteiras como o jornalista do ano de 2008.
Monday, October 13, 2008
be at peace
Be at peace
Do not look forward in fear to the changes in life but rather look at them with full hope that as they arise God who's very own you are will lead you safely through all things. And when you can not stand it he will carry you in his arms.
Do not fear what may happen tomorrow for the same understanding father who cares for you today will care for you then and every day. He will either shield you from suffering or give you unfailing strength to bear it. Be at peace. Leave aside all anxious thoughts and imaginations.
Sunday, October 05, 2008
Noite estrelada
Um dos quadros mais deslumbrantes de Van Gogh está de visita aqui no MoMA, Noite estrelada sobre o Rio Rhône. Mora em Paris no Musée d'Orsay. Depois vai para a Holanda. A exposição é "Van Gogh e as Cores da Noite". Tem um belo tour online no site do museu, no link abaixo.
Nenhuma reprodução online ou em papel faz justiça à tela. As pinceladas são muito grossas e parecem terem sido pintadas ontem (e o foram há exatamente 120 anos). O azul noturno é de uma intensidade incrível - o famoso "azul Van Gogh". As estrelas e os reflexos dos lampiões no rio são montes de tinta de várias cores, amarelo, branco, verde claro. Visto de longe, as estrelas cintilam e a água do rio se move. O casal de namorados em primeiro plano é comovente. É uma noite amorosa, consoladora, cheia de luz.
Van Gogh and the Colors of the Night
Van Gogh and the Colors of the Night
Thursday, September 25, 2008
Friday, September 19, 2008
Wednesday, August 13, 2008
New York garden
Friday, August 01, 2008
I read with enormous pleasure Douglas Hofstadter's books Le Ton Beau de Marot and I Am a Strange Loop.
The former is about translation, with dozens of wonderful versions of the following poem by Clément Marot:
À une damoyselle malade
Ma mignonne,
Je te donne
Le bon jour.
Ce séjour
Est prison.
Guérison
Retrouvez
Puis ouvrez
Votre porte
Et qu'on sorte
Vitement,
Car Clément
Le vous mande.
Va, friande
De ta bouche
Qui se couche
En danger
Pour manger
Confitures;
Si tu dures
Trop malade,
Couleur fade
Tu prendras,
Et perdras
L'embompoint.
Dieu te doint
Santé bonne,
Ma mignonne.
The following are my own translations in Portuguese and English. And two retranslations to French.
Seguem minhas próprias traduções em português and inglês. E duas retraduções para o francês.
Little boy
What a joy,
You, today.
This sick stay
Has to end.
Don't extend
Your refrain,
Run again,
Run amock,
Doors unlock,
So says Doug
(What Clem dug
Long ago).
Time to go,
You, gourmand,
Who viand,
Choice sweets,
Gladly eats
While in bed.
But you'll shed
Too much weight
If you wait
To recoup
From this loop,
And turn pale.
Heavens hail,
Sails ahoy,
Little boy.
Meu bebê,
Pra você
Meu alô.
Seu dotô
É carrasco.
Não dá asco
Ser doente?
É Clemente
Quem lhe diz.
Por um triz
Você dança,
Viu criança.
Corra, eia!
Boca cheia
De geléia,
Hein, tetéia,
De pijama
Nessa cama,
A sofrer...
Tu vais ver
Que a doença
É sentença
Sem perdão,
É prisão
Sem saída.
Boa vida
Deus te dê,
Meu bebê.
Minha linda,
Está ainda
De pijama!
Essa cama
É tortura.
Queira a cura
Sem tardança,
Vá criança,
Caia fora,
Tá na hora
De ir em frente,
Eu, Clemente,
Tu, garota.
É, marota,
Que mastiga,
Sim, amiga,
Sem vergonha
Sobre a fronha
Seu gateau.
Se Marot
Fala em vão,
Triste então
E escuro
Será tudo
Pra você.
Deus lhe dê
Muito ainda,
Minha linda.
Minha flor,
Vossa dor
Me faz pena;
Quarentena
É prisão.
A razão
Retomai,
Empurrai
Vossa porta,
O que importa
É sair,
E fugir
Marot manda.
Vai, malandra
Doentinha
Que se aninha
Pra curtir
E engolir
Guloseimas;
Se tu teimas
Em sofrer,
Vais perder
Toda a cor
E o frescor
De bebê.
Deus te dê
Bom vigor,
Minha flor.
Mon petit,
Je vous dit,
Voici l'heure.
C'est malheur
D'être au lit,
Votre vie
En erreur,
Votre coeur
Endormi.
Votre ami
Je demeure
Et je meurs
De souci.
Allez-y
De bonne heure!
Toi qui beurres
Tes biscuits
Dans la nuit,
Dont la peur
N'est qu'un leurre,
Dont l'esprit
Est meurtri,
Viens, ma soeur,
Ton horreur
Est finie.
Le voici
Ton bonheur,
Mon petit.
Doug mon cher
D'outre-mer
Mon salut.
Deuil aigu
Est un loup,
Loup-garou
Qui nous mange,
Loup étrange
Et sans fin.
Notre faim
Nous démange
"E pur" l'ange
Est mortel
Immortel
Qui revient
Et devient
Une image
Sans âge,
Ambigram.
C'est Clément
Qui le dit,
Chickadee,
Que la vie
Nous sourit.
Dieu te donne
Ta mignonne
En mystère,
Doug mon cher.
Tuesday, July 29, 2008
SERENITY
The following excerpts are from "Acceptance was the Answer", one of the most quoted personal stories of the Big Book of Alcoholics Anonymous. It was written by Dr. Paul Ohliger who died in 2000 at the age of 83. Understanding and practicing acceptance, every day, for everything, is the key to serenity.
Nothing, absolutely nothing happens in God's world by mistake. Until I could accept my alcoholism, I could not stay sober; unless I accept life completely on life's terms, I cannot be happy. I need to concentrate not so much on what needs to be changed in the world as on what needs to be changed in me and in my attitudes.
Shakespeare said, "All the world's a stage, and all the men and women merely players". He forgot to mention that I was the chief critic. I was always able to see the flaw in every person, every situation. And I was always glad to point it out, because I knew you wanted perfection, just as I did. A.A. and acceptance have taught me that there is a bit of good in the worst of us and a bit of bad in the best of us; that we are all children of God and we each have a right to be here. When I complain about me or about you, I am complaining about God's handiwork. I am saying that I know better than God.
For years I was sure the worst thing that could happen to a nice guy like me would be that I would turn out to be an alcoholic. Today I find it's the best thing that has ever happened to me. This proves I don't know what's good for me. And if I don't know what's good for me, then I don't know what's good or bad for you or for anyone. So I'm better off if I don't give advice, don't figure I know what's best, and just accept life on life's terms, as it is today - especially my own life, as it actually is. Before A.A. I judged myself by my intentions, while the world was judging me by my actions.
When I focus on what's good today, I have a good day, and when I focus on what's bad, I have a bad day. If I focus on a problem, the problem increases; if I focus on the answer, the answer increases.
Acceptance is the key to my relationship with God today. I never just sit and do nothing while waiting for Him to tell me what to do. Rather, I do whatever is in front of me to be done, and I leave the results up to Him; however it turns out, that's God will for me.
I must keep my magic magnifying mind on my acceptance and off my expectations, for my serenity is directly proportional to my level of acceptance. When I remember this, I can see I've never had it so good. Thank God for A.A!
SERENIDADE
Os trechos abaixos são de "Aceitação era a Resposta", uma das estórias pessoais mais citadas do Livro Azul dos Alcoólicos Anônimos. Foi escrita pelo Dr. Paul Ohliger, que morreu em 2000 aos 83 anos. Entender e praticar a aceitação, todos os dias, para tudo, é a chave da serenidade.
Aceitação é a resposta para todos os meus problemas hoje. Quando estou perturbado, é porque considero alguma pessoa, coisa, lugar ou situação - algum fato da minha vida - inaceitável, e não posso achar serenidade até aceitar que a pessoa, lugar, coisa ou situação é exatamente o que deve ser neste momento. Nada, absolutamente nada acontece no mundo de Deus por engano. Até que aceitasse meu alcoolismo, não conseguia ficar sóbrio; a não ser que eu aceite a vida completamente, como ela é, não posso ser feliz. Preciso me concentrar não tanto no que precisa ser mudado no mundo, quanto no que precisa ser mudado em mim e nas minhas atitudes.
Shakespeare disse, "Todo o mundo é um palco, e todos os homens e mulheres meros atores". Esqueceu de dizer que eu era o maior crítico. Eu sempre era capaz de ver a falha em todas as pessoas, todas as situações. E estava sempre pronto a dizê-lo, porque sabia que você queria perfeição, tal como eu. A.A. e a aceitação me ensinaram que há um pouco de bom no pior de nós e um pouco de mau no melhor de nós; que somos todos filhos de Deus e cada um de nós tem o direito de estar aqui. Quando eu reclamo de mim ou de você, estou reclamando da obra de Deus. Estou dizendo que sei mais do que Deus.
Durante anos eu tinha certeza de que a pior coisa que poderia acontecer a um cara legal como eu seria me tornar um alcoólico. Hoje acho que é a melhor coisa que já me aconteceu. Isso prova que eu não sei o que é bom para mim. E se não sei o que é bom para mim, então não sei o que é bom ou mau para você ou para qualquer um. Por isso é melhor eu não dar conselhos, não achar que sei o que é melhor, e simplesmente aceitar a vida como ela é, hoje - especialmente minha própria vida, como ela de fato é. Antes de A.A. eu me julgava pelas minhas intenções, enquanto o mundo me julgava pelas minha ações.
Quando eu ponho meu foco no que está bem hoje, tenho um bom dia, e quando eu ponho o foco no que está mal, tenho um mau dia. Quando focalizo um problema, o problema aumenta; quando focalizo a resposta, a resposta aumenta.
Aceitação é a chave da minha relação com Deus hoje. Eu nunca fico sentado sem fazer nada enquanto espero que Ele me diga o que fazer. Em vez disso, faço o que está diante de mim para ser feito, e deixo os resultados por conta d'Ele; aconteça o que acontecer, é o que Deus quer para mim.
Preciso manter minha mente, que aumenta tudo magicamente, concentrada na minha aceitação e não nas minhas expectativas, pois minha serenidade é diretamente proporcional ao meu nível de aceitação. Qando eu lembro disso, posso ver que minha vida nunca foi tão boa. Agradeço a Deus por A.A.!
Deus, dá-nos serenidade para aceitar o que não podemos mudar, coragem para mudar o que podemos, e sabedoria para sacar a diferença.
Monday, July 28, 2008
Friday, July 25, 2008
Prayer for Heath Ledger
God, keep your son Heath in a good place,
He who felt the pain of a gay man's self-denial,
With a broken voice under a mountain of shame,
Who humbly asked for acceptance and accepted himself in the end,
He who went beyond movie-star good looks
To search for the core of our common humanity,
Who was never more than an Aussie lad with a crooked grin,
He who plunged in the depths of insanity to look evil in the face,
To show us the ugly joke of addiction,
Who turned himself inside out with fearless surrender to his art,
He who wanted to live, and died of an accidental overdose,
Who needed a peace he could not find,
May he rest in that place from where great artists, their lives cut short, enjoy whatever we the living learn from their art.
God, keep Heath Ledger in the peace he deserves.
Wednesday, July 23, 2008
IL FAUT CULTIVER SON JARDIN
Little things that give me joy. The flowers that came out this morning framing the New York skyline.
Video (demora um pouco a carregar)
Jets of water, jets of steel and glass skybound in joy.
Friday, July 18, 2008
Heath Ledger, o Coringa no novo filme de Batman "The Dark Knight".
HEATH LIVES
Jorge Pontual
Heath Ledger is the only living thing in a dead movie. Could he have died for giving too much live to the Joker?
The audience cheers everytime he kills someone and he kills a lot. The Joker gives life to our killer instincts. It's safe to kill in a movie theatre. His insanity is our insanity. We don't have to act out on our insanity, he does it for us. He's a clown who takes himself very seriously. He doesn't take anyone else seriously. He knows better. He's willing to go beyond any pretense of righteousness. Everyone is a Two Face. Batman is a closeted drag queen. Only the Joker has the courage to make no compromise. He plays for all or nothing.
Heath Ledger is constantly licking the Joker's scars, his deranged slashed smiling mouth. He's an addict. His demands are inhexaustible. He wants more and more and more. This world is too small for his mouth and his tongue. He can't have enough.
We're all addicts. We go the movies at midnight to watch a dead movie. We cheer for death. We want more. We leave with dry tongues wriggling, dangling from our wrung out mouths. We overdose on killing. Never enough.
There's beauty in an artist's total surrender to his act. Heath kills himself to give life to the Joker, to our darkest dreams. He dies so we can live and suffer, safely, the awfulness of our addiction.
The Joker is no one, he has killed the self. He's only instinct, impulse. He's random. He has no purpose. He revels in chaos. His life is a joke. A cruel joke.
We go out into the night of Gotham sad for Heath and his Joker. Such waste. We ask God for serenity and courage and wisdom. We want to live. No more jokes. No more death.
Monday, June 16, 2008
Do not fear what may happen tomorrow. The same loving Father who cares for you today will care for you tomorrow and every day. Either He will shield you from suffering or He will give you unfailing strength to bear it. Be at peace then, and put aside all anxious thoughts and fearful imaginings. Trust in the Giver of all good gifts. Amen.
Wednesday, May 28, 2008
Esta é a imagem de Nossa Senhora encontrada em Creta em 1453 e levada a Veneza. Hoje está numa igreja em Roma. Em torno dela cresceu a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, protetora dos doentes e aflitos.
Oração a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Oh! Doce Mãe minha! Se em Vós não visse eu meu Perpétuo Socorro, meus pecados me induziriam a temer que não haveria misericórdia para mim.
Mas Vós sois a misericórdia perpétua: depois de Deus em Vós quero pôr toda minha confiança e desde agora me proponho a recorrer sempre a Vós nas minhas necessidades.
Oh! Mãe do Perpétuo Socorro. Dignai-vos socorrer-me em todo tempo e em todo lugar, em minhas tentações e dificuldades, em todas as misérias desta vida, e sobre tudo na hora da morte.
Repost: de 20 de novembro de 2005
Acordo no meio da noite para anotar aqui um sonho antes que esqueça. No pedaço que lembro, tenho que levar para lugar seguro duas crianças ou dois jovens - sinto a presença deles mas não vejo os rostos. Levanto os dois do chão, começamos a subir e eu vejo no céu - é de noite - a imagem bem distante de um anjo levando duas pessoas. Digo: Olha, um anjo. Mas a imagem some.
Me viro para a direção na qual temos que ir. Estamos no meio das nuvens, claro-escuro. Nos deslocamos muito devagar entre as nuvens. Percebo que se eu quiser podemos voar muito mais rápido, atravessando as nuvens e seguindo em frente. Penso que é isso que um anjo faz, e que se a gente quiser e souber pode ser como um anjo. Sinto que há outros anjos fazendo a mesma coisa mas não os vejo.
Voamos muito depressa na direção de uma luz forte entre as nuvens. Tenho que tomar cuidado para não bater nas árvores. Estamos descendo. Agora voamos muito baixo, vendo o chão. Estamos chegando a um lugar muito iluminado, parece uma fábrica, refinaria, prédio vasto em construção, muita gente. Não nos vêem. Não dá pra continuar voando, pousamos no chão e continuamos andando. Não acho uma brecha para atravessar para o outro lado do cenário, onde temos que ir. Uma mulher está falando, dando ordens para os homens que trabalham naquele lugar muito iluminado. Vou pedir ajuda a ela. Acordo.
Acho que esse sonho tem algo a ver com a entrevista com Wim Wenders, os anjos dele, a asa que ele desenhou na Nastassja Kinski.
Tem a ver também com o fato de que de manhã vou passear por New York com os dois atores da Globo que estão aqui concorrendo ao Emmy International, Carolina Oliveira, 10 anos, e Douglas da Silva, o Acerola, 17. Vou gravar uma reportagem com eles para o Fantástico.
Ontem perguntaram ao Douglas (foi o Luiz Fernando Carvalho quem perguntou na apresentação do Douglas ao festival) qual a lição de vida do trabalho como ator. Ele respondeu: Deus escreve certo por linhas tortas. A tradutora não sabia dizer isso em inglês e eu não lembrei na hora. Mas quando acordei do sonho lembrei: God writes straight with crooked lines.
Wednesday, February 27, 2008
Rock 'n' Roll, a última peça de Tom Stoppard, que vi ontem aqui na Broadway, é um triunfo da razão e da emoção, juntas. Afinal, nós somos razão + emoção e uma não vive sem a outra.
E o que faz as duas se juntarem triunfalmente? A paixão.
A trama é complexa e difícil de resumir. Se passa em Praga e Cambridge (a inglesa) de 1968 a 1990.
Stoppard é tcheco e os pais, judeus, se refugiaram no então império britânico.
No personagem tcheco, Jan, Stoppard projeta o que ele poderia ter sido se tivesse voltado a Praga em vez de virar inglês. A paixão de Jan: Rock 'n' Roll, especialmente Pink Floyd.
Jan vai a Cambridge em 68 a convite do filósofo marxista Max Morrow. A paixão de Max: Marx.
A mulher de Max, Eleanor, é professora de grego clássico. A paixão de Eleanor: Safo, a poeta do amor.
A filha de Max e Eleanor, Esmé, é uma hippie que nunca saiu dos 60. A paixão de Esmé, e da filha dela, Alice: Syd Barrett, um dos fundadores do Pink Floyd.
A estrutura da peça é simples: cenas mais ou menos desconexas, instantâneos da vida desses personagens, costuradas por trechos de clássicos do Rock dos anos 60 e 70. Termina com o show dos Rolling Stones em Praga, em 1990.
Syd Barrett deixou o Pink Floyd depois do segundo disco, destruído pelo LSD. Pirou e viveu isolado em Cambridge. Morreu em 2006, quando Rock 'n' Roll tinha acabado de estrear em Londres.
Syd Barrett é a encarnação do deus Pã. É o fio que amarra todas as histórias que se cruzam. Barrett e Pã morrem, mas a peça termina com a imagem de um novo Pã, Mick Jagger.
O que os quatro personagens principais têm em comum, além da paixão, ou por causa da paixão, é a integridade. São fiéis a si mesmos, apesar das muitas pequenas traições e desconsolos da vida.
Jan é especialmente comovente, na interpretação maravilhosa do ator inglês Rufus Sewell. É raro ver um personagem ser criado com tanta complexidade, inclusive fisicamente, com tiques e expressões únicas. O crítico Ben Brantley do New York Times observou bem: no final da peça, Jan é um palimpsesto. Você vê sobrepostas todas as camadas da vida dele.
Brian Cox cria o marxista Max sem caricatura, embora o personagem se preste a ser caricaturado. Ele é o último comunista da Inglaterra, depois que todos os intelectuais deixaram o partido. Max lembra muitos comunistas que passaram pela nossa vida e que tinham essa marca: a integridade.
Mas o centro emocional da peça está nos dois personagens criados pela atriz irlandesa Sinead Cusack, a mulher do ator Jeremy Irons. Eu nunca a vi antes no palco, só em filmes, e fiquei de quatro. Ela é Eleanor e, no segundo ato, a filha Esmé.
Na cena central da peça, Eleanor, que está morrendo de câncer, se desespera porque sente que perdeu a paixão do marido, Max, desde que o corpo dela foi mutilado. Max diz que continua amando a mente dela. Mas Eleanor protesta: "Eu não sou só o meu corpo, mas sou também o meu corpo. Mente, não!" Ela denuncia a covardia intelectual de Max, que como materialista não aceita a separação corpo-mente, mas diante da mutilação da mulher se refugia no dualismo.
O diálogo é o tempo todo altamente intelectualizado (difícil de acompanhar) e intensamente emocional. É a primeira peça em que Stoppard, famoso pelo intelecto, se entrega à emoção.
Esmé, a hippie parada no tempo, se redime no reencontro com Jan. Em 68, com 16 anos, ela tinha oferecido a Jan a virgindade, na última noite dele em Cambridge antes de voltar a Praga. Mas ele, em vez da virgindade de Esmé, leva um disco de Pink Floyd.
Jan, de volta a Praga, vive em torno da sua coleção de discos de Rock, que acaba sendo destruída pela polícia do regime comunista. Os roqueiros de Praga estão na vanguarda da oposição ao regime. No final, Esmé e Jan vão viver juntos em Praga, e a peça termina com os dois no concerto dos Stones, depois da queda do comunismo.
Metade do público foi embora no intervalo. Mas a metade que ficou teve uma experiência intensa de razão, emoção e paixão.
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