Sunday, July 24, 2005

Paul Cézanne, Mont Sainte Victoire

... olhar aquele quadro era como ouvir uma música muito próxima ao silêncio, como ser muito lentamente possuído pela melancolia e a felicidade. Compreendeu num instante que era assim como ele deveria tocar o piano, igual que havia pintado aquele homem: com gratidão e pudor, com sabedoria e inocência, como sabendo tudo e ignorando tudo, com a delicadeza e o medo com que alguém se atreve pela primeira vez a uma carícia, a uma necessária palavra. As cores, diluídas na água e na distância, desenhavam sobre o espaço branco uma montanha violeta, uma planura de ligeiras manchas verdes que pareciam árvores ou sombras de árvores na penumbra de uma tarde de verão, um caminho perdendo-se pelas encostas...

Antonio Muñoz Molina, O Inverno em Lisboa, cap. XVI.

Eric Satie, Gymnopédies, I, II, III , Aldo Ciccolini, piano

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