Wednesday, December 07, 2005

porco confinado

Por coincidência acabo de ler dois livros que tratam, entre outros temas, do sofrimento dos animais: Pig Perfect, de Peter Kaminsky, e Disgrace, de J.M. Coetzee (pronuncia-se Cú-tsi). Nunca simpatizei com a causa do direito dos animais. Com tanto por fazer pelos direitos humanos, acho um desperdício de tempo e energia. Fiquei irritado com a onda de simpatia e ajuda para os animais domésticos de New Orleans. E as crianças negras? Me cheira a narcisismo de primeiro mundo, além de racismo. Uma forma cômoda e quixotesca de purgar a culpa de uma classe média atolada na abundância.



Mas os dois livros me obrigam a olhar de outro jeito.
Pig Perfect começa como uma ode ao porco - ou melhor, à carne de porco. Kaminsky não tem o menor problema em matar porco para comer a carne deliciosa. Na busca do porco perfeito, ele vai ao sul da França e à Espanha, onde as cepas ibéricas, animais criados soltos comendo bolotas de carvalho, produzem a melhor carne de porco do mundo. Ele descobre numa ilha da Geórgia varas de porcos selvagens descendentes dos primeiros suínos trazidos para a América do Norte pelo conquistador espanhol Hernán de Soto. Transporta dezenas desses porcos para fazendolas onde eles passam a ser criados com resultados magníficos.
E aí ele nos leva ao inferno: as fábricas de carne suína. Quem já esteve numa granja onde galinhas são criadas confinadas sabe do que estamos falando. Pois a fábrica de porcos é uma granja elevada a N, em crueldade, fedor e danos irreparáveis ao meio-ambiente. Um horror. Não vou contar detalhes porque é de vomitar.
O confinamento causa doenças, por isso os porcos são entupidos de antibióticos. Oitenta por cento dos antibióticos consumidos nos EUA vão para os animais em confinamento (porcos, galinhas, perus, vacas).
A carne de porco comprada no supermercado vem dessas fábricas. Por isso é seca, sem gosto e pouco saudável. Todas as qualidades do porco criado solto se perdem no confinamento.
A indústria do porco é recente, começou nos anos 70/80, mas se alastrou e destruiu os pequenos criadores. A produção de porco em massa faz parte do complexo militar-industrial americano. A carne de porco é a principal fonte de proteína nas rações dos centuriões do novo Império.
Tudo isso dá vontade de parar de comprar carne de porco, a não ser aquela fornecida pelo que resta de pequenos produtores, e que pode ser encontrada na Internet.
O sofrimento dos porcos submetidos a esse inferno é horrível. Dá pra entender quem luta pela libertação dos animais, mesmo sendo uma causa quixotesca. A boa notícia é que esse pessoal se aliou às cooperativas de pequenos produtores e aos chefs e gastrônomos de elite que querem uma carne de primeira, para criar uma rede alternativa. Isso ajuda mas é pouco. O certo era o governo intervir para acabar com os absurdos da indústria do porco. Só acontecerá se os cidadãos acordarem para o problema.
O livro de Coetzee é um romance. Os temas são o envelhecimento, o conflito racial na África do Sul, e o sofrimento dos animais. O protagonista é um professor universitário que cai em desgraça. A rendenção vem no trabalho com uma defensora dos direitos dos animais, que faz eutanásia em cães doentes. David, o professor, redescobre sua humanidade num viralata mutilado. Contado assim parece muito piegas, mas Coetzee, prêmio Nobel de 2003, é implacável com o sentimentalismo.
Mais uma coincidência: o artigo na New Yorker da semana sobre os porcos selvagens que viraram uma praga nos EUA. Já são cinco milhões em dezenas de estados - por coincidência, ou não, os estados que reelegeram Bush em 2004. Isso me fez lembrar o romance Oryx and Crake de Margaret Atwood, sobre a extinção da humanidade neste século. Uma das pragas que tomam conta do planeta: mutantes de porco criados em laboratório, os pigoons, cruza de porco com racoon, que escapam ao controle e passam a devorar as pessoas.
Não está tão longe assim da realidade, já que uma das novidades da engenharia genética é o mutante de porco com genes humanos, para a criação de órgãos a serem usados em transplantes. Uma fábrica de porcos não para produzir carne, mas órgãos humanos. Afinal, segundo Hannibal Lecter, a carne de porco é a que mais se aproxima em sabor da carne humana.
Bom, vou parar pra ir comer meu toucinho.

leitões com genes humanos

4 comments:

Anonymous said...

Por causa de pessoas ridículas como você é que continuam matando e torturando milhões de animais no mundo todo. Eles sentem dor como qualquer membro da sua família, se é que você tem uma.

Anonymous said...

Acho que só com a criação instensiva foi possível diminuir doenças passadas dos criadores para os porcos e dos porcos para os consumidores. Isto deve-se a técnicas de manejo que evitam o contato humano-suíno. Infelizmente, a criação externsiva de carne suína é mais sensível a doenças principalmente no Brasil em que as condições de higiene encontradas em pequenos criadores, em sua grande maioria, são as piores possíveis.

Anonymous said...

Jorge pontual, não sabia que vc era tao narcisista de achar que só os direitos humanos são importantes. Milhares de animais sofrem por sermos tão mesquinhos. Todas as formas de vida têm o direito a uma vida digna sem sofrimentos. Se os humanos sofrem, é por nossa culpa, pela sociedade que nos criamos. Os animais nada têm com isso, deveriamos nos envergonhar de trata-los de tao bruta forma. No final das contas, quem deveria ser chamado de animal irracionail?

Anonymous said...

A natureza vive bem sem o homem? R: SIM! O homem vive sem a natureza? R: NÃO! As demais espécies de animais viveriam melhor sem o homem (sem destruírmos seu habitat, por exemplo)? R: SIM! O homem viveria bem sem as demais espécies animais (carnes, leite, derivados etc)? R: NÃO! A natureza vive bem, em harmonia com as demais espécies animais e vice-versa? R: EM PERFEITA HARMONIA!!! Direitos humanos uma ova! O ser humano tem de ser extinto!!! Somente assim o planeta viverá em harmonia e sustentabilidade!!!!