Thursday, December 22, 2005

Ned Flanders,o politicamente correto

Por trás da cômica polêmica sobre Bonner e Homer, está um projeto sinistro. O professor da USP Laurindo Lalo, que se aproveitou de uma piada do Bonner para atacá-lo, escreveu o artigo "A Necessidade do Controle Público da Televisão". O professor foi jornalista (o currículo dele inclui ter sido editor internacional da TV Cultura na época da ditadura militar) e vereador em São Paulo pelo PT. Se entendi bem, foi um dos fundadores da Andes, a organização de classe dos professores das universidades públicas.

Leia aqui a íntegra do artigo. Reproduzo no final alguns trechos.

A mentalidade é a mesma que regia a fracassada "Cartilha do Politicamente Correto" e outras tentativas de controle ideológico que fazem parte do programa político do PT, agora quase naufragado.

O professor Lalo é daqueles que enxergam um "monopólio do pensamento único" na mídia e querem substitui-lo pelo monopólio do pensamento deles, petistas ou ex-petistas. Felizmente, com o naufrágio do PT, não vai acontecer. Será preciso ir à Venezuela de Chavez ou à Cuba de Fidel, à Coréia do Norte de Kim Jong Il e outros paraísos do autoritarismo para ver o que é o pesadelo do "controle público" da mídia. O uso sistemático da expressão "controle democrático" mal disfarça o caráter fascista e corporativista do projeto.

Do mesmo modo que o PT é um filhote da ditadura, essas tentativas de controle ideológico têm muito a ver com o nosso passado autoritário. Esse pessoal "politicamente correto" não acha um absurdo existirem no Brasil coisas antidemocráticas como uma Lei de Imprensa e a exigência de diploma de jornalista para exercer a profissão. O monopólio das faculdades de jornalismo sobre o acesso às redações não incomoda a esses professores.

Também convivem bem com um dos sistemas educacionais mais perversos do mundo, onde é garantido aos mais ricos o acesso a universidades federais gratuitas, já que as escolas públicas de segundo grau não preparam seus alunos para enfrentar a competição dos egressos das escolas particulares. Introduzir "quotas" só disfarça essa perversidade com um verniz politicamente correto.

Como o professor Lalo foi jornalista, ele deve saber que o processo de edição e programação de notícias na mídia é e sempre será falho, ou seja, humano. Mas daí a afirmar que esse processo é controlado por um quimérico "monopólio do pensamento único", e que o "controle público" resolveria tudo, é lamentável.

Rejeitar o processo real de competição e colaboração que existe em qualquer veículo de comunicação, como sendo "imposição do mercado", ou, pior, "do patrão", não é preparar os futuros jornalistas para exercerem com sucesso a profissão. O resultado é a atitude cínica de achar que o processo é viciado e não há nada a fazer enquanto não vem o tal "controle público".

É triste constatar isso, mas os valorosos petistas que lutaram contra a dtadura não aprenderam o que é democracia.

E já que a polêmica gira em torno dos Simpsons, sugiro Ned Flanders como o personagem para representar o papel do professor Lalo. É aquele fundamentalista cristão politicamente correto que quer policiar o pensamento alheio. Num dos pesadelos do Homer, ele constrói uma máquina do tempo que o leva ao futuro, onde Ned Flanders manda no mundo. Direita e esquerda se encontram.

Seguem os trechos do artigo:

"As ondas da televisão trafegam pelo espaço eletromagnético, um bem público, escasso e finito e suas mensagens chegam diretamente aos domicílios, dentro de um reduzido leque de alternativas oferecidas aos telespectadores dos canais abertos, a maioria absoluta da população brasileira. Daí a necessidade de ser regulado pelo Estado, com o objetivo de evitar privilégios.

(...) Ao órgão regulador caberia a abertura das licitações para a concessão de canais de rádio e TV, o julgamento das propostas levando em conta preferencialmente o projeto de programação apresentado, o acompanhamento da programação levada ao ar e a publicação periódica de avaliações da qualidade oferecida. Dessa forma nenhum julgamento seria feito a priori. Aos detentores das concessões seria dada liberdade total de colocar nas telas o que desejassem, cujo limite seria a responsabilização caso infringissem o disposto no contrato de concessão, na lei e nos valores sociais em vigência naquele momento determinado.

Dessa forma, os integrantes do órgão regulador operariam baseados na norma escrita e no consenso social. Seriam respaldados por uma constante auscultação da sociedade. O que seria feito através de pesquisas capazes de revelar o ânimo dos diferentes grupos sociais diante do que lhes pode oferecer esse serviço público de entretenimento, informação e educação. O êxito de um sistema como esse está condicionado a dois fatores: poder de sanção e transparência. Sem formas de punição não há como exigir qualidade e respeito as normas e valores. Caberia ao órgão regulador o papel de advertir, multar, suspender e até de cassar concessões de empresas refratárias ao cumprimento do que ficou estabelecido ao receber a autorização para operar um canal de TV. Mas esse processo só seria eficiente e democrático se baseado na mais ampla transparência, com o debate da qualidade da programação televisiva sendo constante e ocupando espaços na própria televisão, nos veículos de comunicação impressos, na internet e dai repercutindo de forma ampla em toda a sociedade."



professor Laurindo Lalo

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