Monday, November 14, 2005

Peter Braunstein na capa do jornal mais lido de New York

O grande assunto nos blogs e nas redações aqui não é Bush, nem Iraque, nem terrorismo: é o repórter tarado Peter Braunstein, o homem mais procurado pela polícia de New York.
Todo mundo está comentando a coluna que saiu hoje no New York Times escrita por David Carr, reclamando da obessão com o caso e, principalmente, do prazer macabro dos blogs e tablóides em fazer piadas com essa história. Exemplo, no blog Jossip: "Estupro não tem graça, mas Peter Braunstein é hilariante".

Peter Braunstein

Braunstein é acusado de ter atacado uma mulher na noite do Halloween, 31 de outubro. Ele ateou fogo a uma cesta de papéis no prédio da moça e bateu na porta dela vestido de bombeiro, dizendo que tinha vindo apagar o incêndio. Ela o deixou entrar. O tarado amarrou a vítima, e durante 13 horas, além de currá-la, fez fotos dela com vários pares de sapatos de designers como Manolo Blahnik e Salvatore Ferragamo. Se fosse cena da série Sex and the City, ninguém estranharia.
No dia seguinte, Braunstein foi flagrado pelas câmeras do hotel onde pernoitou no mesmo bairro, Chelsea, carregando uma sacola com os sapatos. Ele teria sido identificado depois disso pela vítima, uma ex-colega de trabalho.
Braunstein, 41 anos, é jornalista freelancer e escreve para revistas femininas e jornais alternativos como o Village Voice.
A polícia já descobriu que ele comprou o uniforme de bombeiro no eBay e tinha no computador um texto descrevendo o ataque à mulher em detalhes. Além disso, Braunstein tinha um blog no qual contava fantasias sexuais sadomasoquistas. Em algumas das reportagens que publicou, o tema era o sadomasoquismo em fotos de moda.
O repórter, segundo a polícia, se dedicou nos últimos meses a estudar as táticas policiais em New York, gravando em video cenas de policiamento e arquivando material sobre o assunto. Por isso ele estaria conseguindo escapar à prisão, sempre se antecipando aos policiais.
O fato é que o crime ocorreu há duas semanas e Braunstein continua solto, sendo visto por toda a cidade, inclusive no bairro, Chelsea, onde cometeu o crime. A polícia avisou a modelo Kate Moss para tomar cuidado porque ela está numa lista de mulheres encontrada no computador de Braunstein, junto com o nome da vítima.
Esta é uma mulher de 34 anos que, segundo os tablóides, foi demitida da revista W por ter se apropriado de sapatos usados para fotos de moda. Recentemente, ela teria perdido um novo emprego numa joalheria por ter feito o mesmo com jóias.
Braunstein escreveu um romance não publicado, Paparazzi, sobre uma celebridade que se apaixona pelo tarado que a persegue. Segundo a coluna de gossip do New York Post, o romance é "brilhante".

Peter Braunstein

O blog Gawker está fazendo uma pesquisa de cunho humorístico perguntando: onde está Braunstein? A resposta mais votada: na porta da sede do Gawker.
As mulheres de New York estão evitando andar na rua à noite, com medo do tarado. Algumas que trabalham em revistas de moda e conhecem Braunstein estão deixando a cidade para se esconder em lugares seguros.
Os tablóides e blogs estão fazendo a festa, com manchetes e "furos" de mau gosto em torno de cada detalhe do caso e cada ínfima informação relacionada com Braunstein. Como ele era relativamente conhecido no meio das revistas de moda, não faltam fofocas apimentadas. O nome da namorada que o processou por persegui-la já foi publicado, o que é antiético. Os blogs de fofocas Gawker e Jossip lideram, com seções inteiras dedicadas a Braunstein.
A manchete acima do jornal mais lido na cidade, o New York Post de Rupert Murdoch, é irônica: "SICK GAME", jogo doente, se refere à brincadeira de gato-e-rato que Braunstein está jogando com a polícia. Mas também pode se aplicar à cobertura que o próprio Post, os outros tablóides e os blogs estão dando ao caso. Brausntein tem ligado para passar notas sobre ele mesmo aos redatores da Page Six, a coluna de fofocas do Post, lida por absolutamente todo mundo na cidade.
Parece história de filme de Hollywood, com certeza será filmada em breve, e é o primeiro grande caso policial que envolve diretamente a Internet e a imprensa, na cidade onde tudo o que acontece nesse meio tem repercussão mundial.
David Carr tem razão, a exploração desse caso é grotesca e antiética, mas não adianta reclamar. Esse é o novo mundo da mídia no qual vivemos, descontrolado, desmiolado, obsessivo e sem qualquer escrúpulo. Um mundo no qual a morte, o crime, o macabro, são fonte de entretenimento. Um grand guignol da era da informação, eletrônico, digital e imediato. E o público consumidor (nós) adora.

Capas do Post sobre o caso nos últimos dias:





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