Thursday, March 02, 2006

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O Veneno

O vinho sabe dar à mansarda sem cor
Um luxo prodigioso
E faz surgir um novo templo fabuloso
Na luz do rubro vapor,
Como um pôr-do-sol no meu céu nebuloso.

O ópio faz crescer o que não tem mais fim,
Expande o ilimitado,
Aprofunda o prazer, deixa o tempo alongado
E faz transbordar em mim
Um gozo negro, morno e enevoado.

Mas nada disso vale teu verde veneno
Teu olhar, olhar espesso,
Lago onde meu ser treme e se vê pelo avesso...
Para nesse abismo pleno
Matar a sede, como em sonho enlouqueço.

Não, nada disso vale o milagre brutal
Da tua saliva forte,
Que me faz afundar sem remorso, sem norte,
Na vertigem abissal,
Até me desgarrar pelas praias da morte!


Le Poison

Le vin sait revêtir le plus sordide bouge
D'un luxe miraculeux,
Et fait surgir plus d'un portique fabuleux
Dans l'or de sa vapeur rouge,
Comme un soleil couchant dans un ciel nébuleux.

L'opium agrandit ce qui n'a pas de bornes,
Allonge l'illimité,
Approfondit le temps, creuse la volupté,
Et de plaisirs noirs et mornes
Remplit l'âme au delà de sa capacité.

Tout cela ne vaut pas le poison qui découle
De tes yeux, de tes yeux verts,
Lacs où mon âme tremble et se voit à l'envers ...
Mes songes viennent en foule
Pour se désaltérer à ces gouffres amers.

Tout cela ne vaut pas le terrible prodige
De ta salive qui mord,
Qui plonge dans l'oubli mon âme sans remord,
Et, charriant le vertige,
La roule défaillante aux rives de la mort!

1 comment:

Anonymous said...

Admiro seu trabalho como repórter e vejo, pelos assuntos abordados em seu blog, que temos alguns hobbies parecidos como: gastronomia e arte, além da admiração por textos bem escritos.
Marco Antonio Sodré Oliveira (São Paulo)