Entrevistei hoje para o Sem Fronteiras da Globo News o chefe do departamento de Oriente Médio da New York University, Zachary Lockman. Já o tinha entrevistado outras vezes, ele é ótimo. A entrevista foi sobre o Hamas e vai ao ar na Globo News na quinta-feira. Lockman me ajudou a sair do meu surto pró-Israel dos últimos dias. E olha que ele é judeu. Ele me explicou que embora de fato o Hamas tenha feito atentados terroristas contra Israel, e matado civis israelenses, o partido tem muita legitimidade entre os palestinos por três motivos: os políticos do Hamas - muitos deles eleitos prefeitos de cidades palestinas - não são corruptos como os do Fatah de Yasser Arafat; o Hamas fornece, especialmente em Gaza, serviços essenciais como saúde e educação; e por último o Hamas é visto como forte diante de Israel, enquanto o Fatah é visto como acovardado por ter negociado a paz desde 1993 e prometido um estado palestino que não aconteceu. Disse Lockman que o Hamas tem dois lados, o político, que agora participa das eleições, e o militar, mais radical, que inclui líderes que vivem no exílio - senão seriam mortos pelos israelenses como muitos já foram. Com a eleição de deputados do Hamas - espera-se que eles formem uma bancada quase tão grande quanto o Fatah - Israel vai ter que manter alguma forma de contato com esses novos líderes palestinos, para resolver problemas do dia-a-dia. Lockman calcula que a prática levará inevitavelmente a uma mudança de política e Israel acabará tendo que negociar com o Hamas, assim como os Estados Unidos. Diz ele que essa ala política do Hamas está disposta a negociar com Israel. Enfim, existe uma terceira via, entre o terrorismo palestino e a intransigência israelense.
Quanto ao Iraque, minha impressão (ver post abaixo) de que só há dois lados na questão - ou o projeto de Bush ou o caos e a guerra civil - também está errada. Lockman disse que o projeto de Bush - criar uma democracia no Iraque - já fracassou. Segundo ele a guerra civil é uma possibilidade forte, criada exatamente pelos erros do projeto Bush. E o que pode surgir, como alternativa, não é uma democracia mas algo mais parecido com a teocracia xiita do Irã - e aliada ao Irã.
Aliás, Lockman chama atenção para a hipocrisia dos americanos e israelenses: dizem ser a favor da democracia no Iraque e no mundo árabe (segundo Lockman só da boca pra fora), mas não aceitam representantes democraticamente eleitos pelos palestinos, só porque são do Hamas.
Enfim, tenho que dar a mão à palmatória e reconhecer que para quem de fato conhece a questão a realidade é bem mais complexa do que o que eu estava vendo, sob o prisma da ideologia e do parti pris. Me penitencio. Tenho mais é que ouvir quem entende e parar de dar palpite errado.
Tuesday, January 24, 2006
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