Niall Ferguson
A GRANDE GUERRA DO GOLFO
O historiador Niall Ferguson, um escocês que ensina na universidade Harvard, publicou no Daily Telegraph um artigo intitulado "As origens da Grande Guerra de 2007 e como ela poderia ter sido evitada". Ferguson, que entrevistei para o Milênio da Globo News, é o autor de estudos brilhantes do império britânico e da história financeira, inclusive três volumes sobre a história dos Rothchilds. Antes da guerra do Iraque, ele publicou um livro provocativo sobre o império americano. A tese dele é que os americanos não têm estômago para manter um império, têm um "attention span" curto, não suportam campanhas militares muito longas. Ferguson é um dos defensores da chamada "doutrina Bush", de intervenção preventiva para cortar desafios estratégicos antes que cresçam. Mas ele não acredita que Bush tenha peito de praticar essa doutrina.
No artigo, Ferguson faz o que ele chama de "história contrafatual", ou seja, ficção histórica. Ele escreve como se fosse um historiador do futuro, analisando as causas de uma guerra mundial que teria ocorrido entre 2007 e 2011. É um recurso usado por Ferguson para defender a tese de que os Estados Unidos deveriam fazer, este ano, um ataque preventivo às instalações nucleares do Irã.
No cenário imaginado por Ferguson, O Irã leva adiante seu programa de armas nucleares. O historiador do futuro lembra que o Irã tem uma imensa população jovem pronta para lutar. O ocidente torce para que os aiatolás refreiem o presidente Ahmadinejad, mas ele está disposto a ir à guerra contra Israel.
Condoleezza Rice e os europeus convencem Bush a usar somente a diplomacia contra o Irã. Mas a diplomacia não dá certo porque a China veta no Conselho de Segurança da ONU uma resolução de sanções contra o Irã. A única sanção ao Irã é simbólica, sua seleção é expulsa da Copa do Mundo na Alemanha. Os neoconservadores pressionam Bush, mas o atoleiro militar dos americanos no Iraque tirou a credibilidade dos neocons. Afinal o pretexto usado para derrubar Saddam, um arsenal nuclear iraquiano, era falso. E os europeus, ironiza Ferguson, nem querem ouvir falar em Irã. "Mesmo que Ahmadinejad transmitisse um teste nuclear ao vivo pela CNN, os liberais diriam que isso é um truque dos neoconservadores".
"E assim a história se repete", escreve Ferguson. "Como em 1930, um demagogo anti-semita quebra as obrigações internacionais de seu país e se arma para a guerra".
No cenário de Ferguson, o primeiro-ministro de Israel é o ultradireitista Benjamin Netanyahu. De fato, Netanyahu, que rompeu com Sharon quando este decidiu se retirar de Gaza, tem chance de ser eleito agora em março, pois a vitória do Hamas nas eleições palestinas pode radicalizar os dois lados.
"Agora Teerã tinha um míssil nuclear apontado para Tel Aviv. E o novo governo israelense de Benjamin Netanyahu tinha um míssil apontado para Teerã. Os otimistas argumentavam que a crise dos mísseis de Cuba iria se repetir no Oriente Médio. Os dois lados ameaçariam ir à guerra e depois recuariam. Era a esperança da secretária de estado Rice, enquanto ela voava entre as duas capitais. Mas não aconteceu".
"O devastador conflito nuclear de agosto de 2007", prossegue o historiador do futuro, "representou não só o fracasso da diplomacia, marcou o fim da era do petróleo. Alguns dizem que foi o início da decadência do ocidente. Certamente é uma interpretação válida do conflito que se alastrou quando a população xiita do Iraque tomou as bases americanas em seu país e a China decidiu intervir ao lado do Irã".
E aí vem o parágrafo final no qual Ferguson defende sua tese:
"O historiador tem que se perguntar se o verdadeiro significado da guerra de 2007-2011 não foi validar o princípio inicial do governo Bush, da guerra preventiva. Pois se esse princípio tivesse sido seguido em 2006, o avanço nuclear do Irã teria sido impedido a um custo mínimo. E a Grande Guerra do Golfo não teria acontecido".
A VITÓRIA DO HAMAS
Um dos fatores que levaram à derrota do partido Fatah de Yasser Arafat e à vitória do Hamas nas eleições palestinas é a corrupção generalizada dos seguidores de Arafat. Os Estados Unidos e a União Européia deram entre 3 e 4 bilhões de dólares aos palestinos. Grande parte foi parar no bolso de Arafat e seus comparsas. O mundo fechou os olhos a esse escândalo, ao mesmo tempo culpando Israel pela miséria dos palestinos. O descaso com a corrupção de Arafat está custando caro: a eleição do Hamas, um movimento islâmico que combate a corrupção, mas quer a destruição de Israel. Qualquer possibilidade de diálogo está congelada no momento, enquanto os dois lados se adaptam à nova situação. E a maior hipocrisia é que agora os americanos ameaçam parar de ajudar os palestinos, porque não dão dinheiro a terroristas.
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