Tuesday, October 11, 2005
Fora Bach e a segunda mulher dele, a cantora Ana Magdalena, é difícil achar na história da música um casal tão interessante quanto Clara e Robert Schumann.
Quando eles se conheceram, ela tinha 13 anos e já era virtuose do piano. Ele, com 23, era o aluno mais promissor do pai dela, o professor de piano Friedrich Wieck. Dois anos depois, Schumann se apaixonou por Clara, rompeu o noivado com outra moça e pediu-a em casamento. Wieck recusou. Só cinco anos depois os dois decidiram desafiar o pai de Clara, e se casaram.
Foi em 1840, o ano mais produtivo de Schumann, quando ele compôs 130 lieder, canções que revolucionaram o gênero no qual parecia que Schubert seria insuperável.
Mondnacht (Noite de Lua), Margaret Price, soprano
Widmung (Devoção), Margaret Price
Fantasia em Dó maior, Alfred Brendel, piano: I, II e III
Clara, no auge do sucesso, vivia em tournées pela Europa. Robert detestava acompanhá-la, fazendo o papel de marido da estrela. Apesar das viagens, Clara teve oito filhos, dos quais seis sobreviveram. Para se ter uma idéia da época, Jenny e Karl Marx, também alemães, vivendo no exílio, tiveram cinco filhos e só dois vingaram.
Quando Schumann finalmente começou a ser reconhecido como grande compositor, na década de 50, era tarde demais. Os sintomas de doença mental já tinham se declarado. Ele ouvia vozes e, constantemente, a nota Lá. Finalmente, em 1854, Schumann decidiu se matar e se jogou no rio Reno. Mas foi salvo. Viveu mais dois anos num hospício, visitado apenas pelo jovem discípulo Johannes Brahms, 23 anos mais novo. Schumann morreu aos 46 anos, em 1856.
Brahms dedicou o resto da vida a cuidar de Clara e seus filhos. Ela continuou a ser a mais famosa pianista da Europa e morreu em 1896. Brahms, logo depois, em 97.
Estudos sinfônicos, n. 12, Alfred Brendel, piano
Er, der Herrlichste von allen (Ele, o mais glorioso de todos), da série Frauenliebe und Leben (O amor e a vida da mulher), Margaret Price
Esta canção de Schumann pode ser usada como a música para o poema Chuva fina (Metal Rosicler, 11) de Cecília Meireles. O poema se encaixa bem no primeiro tema da canção.
Chuva fina, matutina,
manselinho orvalho quase:
névoa tênue sobre a selva,
pela relva,
desdobrada, etérea gaze.
Chuva fina, matutina,
o pardal de úmidas penas,
a folhagem e a formosa
clara rosa
sonham que és seu sonho, apenas.
Chuva fina, matutina,
pelo sol evaporada,
como sonho pressentida
e esquecida
no clarão da madrugada.
Chuva fina, matutina:
brilham flores, brilham asas,
brilham as telhas das casas
em tuas águas velidas
e em teu silêncio brunidas...
Chuva fina, matutina,
que te foste a outras paragens.
Invisível peregrina,
clara operária divina,
entre límpidas viagens.
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