Monday, October 03, 2005

Retrato de Dostoyevsky na exposição Rússia!

A megaexposição Russia! no museu Guggenheim é uma perda de tempo. Fora uns poucos ícones e um ou outro quadro interessante, como retratos de Tolstoy e Dostoeyvsky, e alguns bons exemplos do horrendo realismo socialista, 99% é lixo. Uma infinidade de quadros acadêmicos sem o menor interesse.
Obviamente o Guggenheim, que há muito deixou de ser museu para virar uma esperta multinacional para enganar estrangeiros otários (como Cesar Maia), está de olho nos bilhões dos novos magnatas russos.
No século XIX, o mercado de arte europeu abastecia os senhores feudais russos, que viviam da expoliação de servos (só uma família possuía 200 mil servos!) e queriam se passar por europeus sofisticados. Hoje a população russa está de novo reduzida à miséria, mas uns poucos oligarcas posam de "capitalistas modernos". O mau gosto desses novos ricos filisteus se reflete na "coleção" apresentada sob o ridículo título desse show, com ponto de exclamação e tudo. Coincidiu com uma feira de arte multimilionária reabrindo o palácio Manège em Moscou, outro festival de ostentação e mau gosto.
Os espertalhões russos, que se locupletaram com a criminosa privatização do estado, agora se dão ares de nobres tzaristas. E os ainda mais espertos mercadores de "arte" promovem exposições como esta para tentar valorizar esse lamentável espólio de imitações baratas da arte européia. Quem eles pensam que enganam?

Kandinsky


Em vez de glorificar o canhestro academicismo russo, o Guggenheim, se estivesse interessado em arte, deveria valorizar mais sua coleção de verdadeiros artistas russos, a vanguarda que revolucionou a pintura no início do século XX. Pelo menos, o museu abriu uma nova galeria para mostrar alguns dos seus maravilhosos Kandinskys.
Kandinsky foi um dos primeiros pintores abstratos e criou uma linguagem visual que procurava provocar emoções semelhantes às da música. Conseguiu.

Malevich

Outro grande artista russo representado por pouquíssimas telas nessa exposição é o abstracionista (ele se intitulava Supremacista) Kasimir Malevich. A obra dele é um tapa na cara do filistinismo que o cerca neste show infeliz. Moral da história: a Rússia não vive apenas um tremendo retrocesso econômico, social e político. Também culturalmente, o país está entregue aos predadores que tentam lucrar com o que há de pior na tradição tão rica dessa grande nação. É mais deprimente do que qualquer romance de Dostoyevsky.

Malevich

1 comment:

Anonymous said...

Eu amo Kandinsk e esta é a ninha tela favorita(a primeira)