Tuesday, August 30, 2005




Por falar em Narciso, não há pensador mais narciso do que Nietzsche. Radicalmente inebriado de si mesmo.
O grande lance de Nietzsche é a ambiguidade. Pode ser lido como Hitler o lia ou, no extremo oposto, como Foucault.
Para a cobertura das Olimpíadas de 84, juntei trechos de Assim Falava Zaratustra para servir de narração numa sequência de imagens de atletas "voando".
Na época, usei uma trilha sonora óbvia, a Ode à Alegria de Beethoven. É melhor o Allegretto da Sétima Sinfonia do mesmo Beethoven, conhecida como A Sinfonia da Dança. Com Leonard Bernstein e a Sinfônica de Boston, última gravação do maestro.





Quem quer aprender a voar, precisa primeiro aprender a ficar de pé e a andar e a subir e dançar: a arte de voar não se aprende voando!

Aquele que ensinar os homens a voar afastará todos os limites, batizará a terra de novo como A Leve.

Quem quer se tornar leve e se transformar em pássaro deve se amar.





O homem é uma corda estendida entre a besta e o Super Homem - uma corda sobre o abismo.
É perigoso passar de um lado ao outro, perigoso ficar no caminho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O que há de grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é que ele é uma passagem e uma queda.





Por trás dos teus pensamentos e teus sentimentos, irmão, há um soberano possante e um sábio desconhecido. Ele mora no teu corpo, é teu corpo.





Há mais razão no teu corpo que na tua melhor sabedoria. Há sempre um pouco de loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.





E mesmo eu, que estou voltado para a vida, acho que as borboletas, as bolhas de sabão e o que se assemelha a elas entre os homens são o que melhor conhece a felicidade.




Ver voar essas alminhas leves, loucas, graciosas e móveis - isso dá a Zaratustra vontade de chorar e cantar.
Eu não poderia acreditar num deus que não soubesse dançar.
Agora sou leve, agora vôo, agora me vejo abaixo de mim mesmo, agora um deus dança através de mim.




Estou agora diante do meu último cume. Tenho diante de mim meu caminho mais duro. Começo minha corrida mais solitária.
Acima da tua cabeça e além do teu coração. Agora a coisa mais doce em ti deve se tornar a mais dura.





Precisas subir andando sobre ti. Mais alto, mais alto até que as estrelas fiquem lá embaixo.





Céu acima de mim, céu puro. Profundo. Abismo de luz. A te contemplar tremo de desejos divinos. Saltar na tua altura - eis o meu abismo. Ensconder-me na tua pureza, eis minha incoência.
Todo a minha vontade é só voar, voar para entrar em ti!





O belo corpo vitorioso em torno do qual tudo se transforma em espelho.
O corpo ágil, o dançarino cujo símbolo é alma feliz consigo mesma.





Toda alegria quer a eternidade, a profunda, profunda eternidade.





Assim fala a sabedoria do pássaro: Não há alto nem baixo. Lança-te para todos os lados, para frente, para trás, homem leve. Não fala mais. Canta.


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