Monday, February 27, 2006
O Homem e o mar
Sempre o mar, homem livre, terás de adorar!
O mar é teu espelho; vês a tua alma
No rolar infinito de uma onda calma,
Tua mente é abismo amargo, como o mar.
Gostas de mergulhar fundo na tua imagem,
Abraçá-la, olho no olho, braço a braço,
E teu coração nem escuta o seu compasso
Ao som de um indomável lamento selvagem.
Sois ambos tenebrosos e também discretos:
Homem, ninguém conhece tuas profundezas;
Mar, ninguém sondou tuas íntimas riquezas,
Tão ciumentos sois e sempre tão secretos!
E, assim mesmo, há séculos incontáveis,
Lutais um contra o outro sem culpa ou piedade,
Tal é o vosso amor à morte, à crueldade,
Lutadores eternos, irmãos implacáveis!
L'Homme et la mer
Homme libre, toujours tu chériras la mer!
La mer est ton miroir; tu contemples ton âme
Dans le déroulement infini de sa lame,
Et ton esprit n'est pas un gouffre moins amer.
Tu te plais à plonger au sein de ton image;
Tu l'embrasses des yeux et des bras, et ton coeur
Se distrait quelquefois de sa propre rumeur
Au bruit de cette plainte indomptable et sauvage.
Vous êtes tous les deux ténébreux et discrets:
Homme, nul n'a sondé le fond de tes abîmes;
Ô mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets!
Et cependant voilà des siècles innombrables
Que vous vous combattez sans pitié ni remords,
Tellement vous aimez le carnage et la mort,
Ô lutteurs éternels, ô frères implacables!
Poema Baudelaire, tradução Pontual
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