Sunday, June 19, 2005

OUT, OUT, BRIEF CANDLE!

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Georges de La Tour, Madalena arrependida

Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow,
Creeps in this petty pace from day to day
To the last syllable of recorded time,
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death. Out, out, brief candle!
Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.


William Shakespeare, Macbeth, Ato V, cena V

Amanhã, amanhã e amanhã,
O passo vão rasteja dia a dia
Para a última sílaba do tempo,
E os dias idos deram luz aos tolos
Até virarem pó. Apaga, vela!
A vida é sombra solta, mau ator
Que infla e treme até deixar o palco
E nunca mais se ouve: é estória
De um idiota, muito som e fúria,
Sem nenhum sentido.

(minha iâmbica tradução)

Estou indo trabalhar, no metrô entupido de gente, e leio no cartaz intitulado Poetry in Motion o trecho célebre de Macbeth que inspirou o título do romance de Faulkner, The Sound and the Fury. Leio de novo voltando pra casa, e quase todo dia ele aparece na minha frente, já parte da paisagem urbana de New York.
Acabo guglando e aprendo que Macbeth, o déspota escocês assassino, reage assim ao saber do suicídio da mulher dele, Lady Macbeth. Vou à maior autoridade em Shakespeare que eu conheço, Harold Bloom, e constato que embora o personagem favorito dele seja Falstaff, Macbeth é a tragédia de Shakespeare que ele prefere.

"Of the aesthetic greatness of Macbeth there can be no question. The play can not challenge the scope and depth of Hamlet and King Lear, or the brilliant playfulness of Othello, or the world-without-end panorama of Anthony and Cleopatra, and yet it is my personal favorite of all the high tragedies. Shakespeare's final strength is radical internalization, and this is his most internalized drama, played out in the guilty imagination that we share with Macbeth. I do not know if God created Shakespeare, but I know that Shakespeare created us. Macbeth himself exceeds us, in energy and in torment, but he also represents us, and we discover him more vividly within us the more deeply we delve".
Harold Bloom, Shakespeare, the Invention of the Human

Na interpretação de Bloom, todos nós temos um Macbeth lá no fundo, essa sede de poder sem limites, uma fantasia assassina de eliminar todos os rivais. Tem um Macbeth dentro de todo político cheio de ambição de poder. Preciso resistir à tentação de compará-lo ao personagem da nossa política que mesmo deixando o governo diz que vai continuar governando...
Macbeth segundo Bloom é o mais humano de todos os personagens de Shakespeare. Não tem a inteligência de Hamlet, e de todos os protagonistas shakespeareanos ele é o menos livre. Mas é aquele com quem a gente mais se identifica.
E pra Macbeth, como pra cada um de nós, a grande tragédia é o tempo. O que é o nosso tempo de vida se não som e fúria sem sentido?

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Orson Welles no filme Macbeth

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