Friday, June 24, 2005
Uma arte, Elizabeth Bishop
A arte da perda é fácil ter;
por tanta coisa cheia de intenção
de ser perdida não dá pra sofrer.
Perca algo todo dia. Perder
chaves aceite, junto com a aflição.
A arte da perda é fácil ter.
Treine perder muito sem se deter:
lugares, e nomes, a comichão
de viajar. Nada fará sofrer.
Perdi jóias da mamãe. E dizer
que perdi casas que amei de paixão.
A arte da perda é fácil ter.
Perdi duas cidades. E o prazer
de um continente na palma da mão.
Sinto falta mas não dá pra sofrer.
- Até perder você (a voz, o ser
que eu amo) não devia mentir. Não,
a arte da perda se pode ter
embora pareça (diga!) sofrer.
tradução, Jorge Pontual
One art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
-- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
Elizabeth Bishop, 4 de novembro de 1975
Ouça o poema na voz da atriz Blythe Danner com um video de imagens de lugares onde Bishop viveu no Brasil
Esse video é o final de um programa de uma hora, One Art, sobre a poeta. Mas para ver o programa todo, que é ótimo, antes inscreva-se no site www.learner.org. A inscrição é gratuita.
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7 comments:
Cheguei aqui procurando por Baudelaire... e acabei encontrando um universo maravilhoso de poemas.
Parabéns pelo trabalho.
É admirável e fabuloso encontrar tudo isso num lugar só.
Acabei me apropriando de um poema de Bishop (traduzido por vc) e postei no meu blog. Coloquei seus créditos, viu?
Voltarei sempre, se não se opuser, é claro!
Bjs.
Andrea
O poema é maravilhoso, mas você não acha que na tradução ele perdeu sua intensidade? É natural que ocorra, claro. Mas pra mim, as expressões mais marcante como "their loss is no disaster", "Then practice losing farther, losing faster" , principalmente "Write it!" é que dão força pro poema. O "write it!" transporta o leitor para o momento exato em que a autora escrevia, ou se obrigava a escrever aqueles versos. Daí o encanto todo! Ela está tentando ESCREVER o poema pra se convencer que aquilo é verdade. E "disaster" é uma palavra precisa pra explicar a sensação provocada pela perda. No original, ao meu ver, ela expressa que podemos sofrer com uma perda, mas isso não é o fim do mundo. Portanto, na tradução não seria apropriado dizer que "não dá pra sofrer". Dá pra sofrer sim. Deveria dizer que "nao é o fim do mundo" ou "não é nada desastroso". No entanto, imagino que ao trduzir, se procure manter o estilo e até a fonética do poema original. Mas não seria mais importante manter o sentido original acma de tudo? O que você acha?
Obrigado Lu! Vou rever a tradução. abraço Jorge
Your blog keeps getting better and better! Your older articles are not as good as newer ones you have a lot more creativity and originality now. Keep it up!
And according to this article, I totally agree with your opinion, but only this time! :)
You have to express more your opinion to attract more readers, because just a video or plain text without any personal approach is not that valuable. But it is just form my point of view
Após a leitura de "UM PORTO PARA ELIZABETH BISHOP" de autoria da fantástica Marta Góes, todo o poema "Uma Arte" torna-se bem transparente e, o fato da tradução correr o risco de revestir o sentido passa a não ter a menor importância. Para a autora-poetisa, perder é contraditoriamente não muito difícil, mas ao mesmo tempo desastroso. Como ela mesma esclarece, a dor aparece inicialmente na primeira prateleira e com o passar do tempo vai pulando para prateleiras mais altas, até que se torne inalcançável.
Amei reencontrar e reler aqui este poema. Valeu, Jorge Pontual! Um abraço.
Ola Jorge Pontual!
Vi ontem no programa "Em Pauta" você declamando esse poema e me apaixonei! Estou levando para o meu blog com os devidos créditos e indicação do seu blog. Caso não permita, por favor me informe que retiro a postagem! Obrigada!
Sou fã de carteirinha do programa!
Karina Guite
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